quarta-feira, maio 20, 2015

Teoria dos Traços Catalisadores III

Será possível prever movimentos na escrita?
Observando apenas um traço?

Especialistas durante anos tentaram explicar como é possível um tenista rebater um saque de 200 km/h. Estudos mostram que não é a reação, mas a capacidade de ler a linguagem corporal do oponente. (Revista Veja. Ed. 2389. 03 de Setembro de 2014)

Pulver dizia que o grafólogo é um tradutor de movimentos. Se isto é verdade e tenho certeza que é; certamente o grafólogo por meio de técnicas pode observar determinados traços e concluir o(s) próximo(s) movimento(s). Mais do que isto, tirar inúmeras conclusões antes mesmo de começar a análise propriamente dita.
Isto facilitará o trabalho e as conclusões do perfil serão mais profundas. Nos próximos artigos vamos desenvolver a teoria do “bootstrap” na grafologia.

No caso dos atletas de ponta a capacidade para prever o movimento chega ao ápice em torno de dez mil horas de treino, mas é válido somente para o esporte que pratica. Fora disto, o reflexo do atleta é o de qualquer pessoa normal.
O artigo ainda cita que os atletas superam o limite físico porque a prática intensiva do esporte transfere a decisão de reagir o lobo frontal do cérebro, onde são processadas as ações conscientes, para áreas que controlam as ações automáticas do corpo, como respirar.
Tenho absoluta certeza que o grafólogo treinado vai conseguir isto. Pelo tempo de treino e também pela pesquisa de sinais na escrita que demonstrem de forma cabal que a simples e direta observação de um traço leva o aparecimento de outro, assim como estudo do movimento em si.
Existem traços específicos de determinados movimentos, mais do que isto, a forma com que é executada determinada letra, é específica de um movimento.
Depois de estudar alguns exemplos, certamente o grafólogo vai “prever” com precisão quando este movimento vai se repetir na escrita. Depois, por meio de treinamentos e tempo, com certeza irá concluir o movimento e suas inferências psicológicas.

Creio que este tipo de procedimento leva a análise grafológica a um novo patamar de compreensão.
Evidente que somente o treinamento intensivo e o estudo constante de centenas e milhares de escritas são os requisitos primordiais para chegarmos a conclusões mais profundas e precisas.

Todos os dias interpretamos dezenas de movimentos. Será verdade?

Por incrível que pareça isto é a mais pura verdade e normalmente não damos conta disto. Um exemplo clássico de interpretar movimentos de maneira intensa ocorre quando caminhamos na rua.
Segundo Desmond Morris:
“Toda vez que caminhamos por uma rua apinhada de gente, reagimos aos movimentos de intenção dos demais caminhantes à nossa volta.”
Deste modo evitamos as mais diversas colisões. Experimente observar duas pessoas que conversam e caminham em sua direção na calçada. Apenas olhe e caminhe para o meio das duas. Você vai observar que automaticamente elas abrem passagem.
Alguns movimentos de intenção são extremamente sutis, todavia temos a capacidade de interpretá-los, até mesmo sem o devido aprendizado.
Morris ainda cita que existe uma área de ação humana que leva a forma de  movimento rítmico ao extremo: a dança. 
"A dança é uma locomoção que não nos leva a parte alguma. O ritmo dos movimentos alternados tornou-se um fim em si mesmo."

Não é objetivo deste artigo, mas creio que todos os grafólogos deveriam estudar os mais diversos tipos de dança. O movimento e o espaço utilizados, bem como a simbologia são por demais interessantes; desta forma o grafólogo fará comparações e inferências extremamente importantes para o conhecimento da grafologia em si.

Escrita empilhada
Chamo de escrita empilhada àquela em que as palavras ficam uma em cima das outras durante mais de quatro linhas.
Após pesquisar algumas centenas deste tipo de escrita, observei que dividindo o texto verticalmente em três partes, o empilhamento ocorre essencialmente nas duas primeiras partes (lado esquerdo e meio). Não encontrei escritas em que o empilhamento ocorra na margem direita. Não quer dizer que não exista, apenas não encontrei.
A interpretação é até certo ponto fácil, já que após o empilhamento normalmente temos uma chaminé. Fica evidente o estado de ansiedade.
Contudo a interpretação certamente vai além disto.
Pulver escreve:
... se a distância expressa a tendência voluntária ou involuntária de separar, que se apoia na posição que geralmente valoriza e na atitude de juízo, a distância entre as linhas  indica em especial a exigência de ordem por parte do espírito.

Mais adiante escreve:
A pausa como repouso criador, pode se transformar em uma distância que parece um buraco. Não é o efeito do intelecto que limita, senão a inibição psíquica que empurra ao isolamento.

Isto se encaixa de maneira perfeita ao espaço deixado à frente das palavras após o empilhamento. Caso após o primeiro empilhamento,  seguir outro, a situação se complica mais para o escritor em termos de interpretação.

Os empilhamentos mais visíveis são os das primeiras linhas no texto e na margem esquerda. 
Isto é importante para a predição do movimento, até mesmo do resultado do movimento grafoescritural em si.
Em 95% das cento e treze escritas pesquisadas, a margem direita é irregular.

Levando em consideração outros fatores: nenhuma das escritas apresentou movimento dinâmico. Os movimentos eram inibidos, contidos e combinados entre si.
A direção das linhas tende a ser mista na maioria das escritas, com certo padrão para descendente.


Interpretação
A interpretação é até certo ponto facilitada por todos estes fatores acima citados.
Quando ocorre na margem esquerda e em especial nas primeiras linhas:
Lembre-se que nas primeiras linhas o movimento grafoescritural tende a ser consciente. Depois os movimentos inconscientes aparecem. 
“O consciente escreve o inconsciente dita.” Pulver.

O escritor vive um momento de intensos conflitos, tem noção dos mesmos e da sua intensidade. Sabe que sua vida emocional está tensa e até mesmo desorganizada. Como tem consciência disto, precisa encontrar um meio de se controlar, de dominar as emoções. A tentativa é feita organizando as primeiras palavras (simbolicamente pondo ondem na prateleira).
Todavia isto é artificial. Não tem capacidade e nem habilidade emocional para tal. Logo após a escrita volta a se “desorganizar” e final a margem direita é irregular. Incerteza, preocupação, medo do futuro.
Embora tenha consciência do conflito que vive, tenta, mas não tem capacidade psicológica para resolvê-los de maneira correta.

Escrita empilhada dentro do texto
Inicialmente o escritor não tem consciência do conflito pelo qual passa. De modo inconsciente tenta encontrar uma maneira de se ajustar ao meio em que vive. Como no primeiro caso, gasta energia de modo intenso, mas não consegue o equilíbrio que tenta deseja.
As tensões e ansiedades se ampliam de maneira intensa. O ritmo não flui e a cada tentativa falha conflito se amplia. Quer resolver a situação por qual passa, mas não consegue.

Caso você tenha alguma escrita empilhada, envie como colaboração e autorize ela ser publicada, com seu nome e e-mail. Os autores das escritas não serão identificados.

Resumindo: Escrita empilhada nas primeiras linhas, margem direita irregular.




Impressionante exemplo de escrita empilhada. O grafólogo observa o empilhando inicial, a tentativa de colocar em ordem as emoções e sentimentos. Sabe que os mesmo são caóticos tenta um ajuste, como o mesmo é artificial, logo após se decompõe e a margem direita, na quase totalidade dos exemplos estudados são irregulares. Preocupação, medo, ansiedade em relação ao futuro. 





Paulo Sergio de Camargo

Grafologia - Linguagem Corporal



  
Teoria dos Traços Catalisadores II


Observação passiva
Grande parte dos grafólogos diz que necessitamos realizar a observação passiva antes de iniciarmos uma análise grafológica. O grafólogo se “desliga de tudo” e mantém a concentração total no grafismo que vai se analisado. Este procedimento dura em torno de 2 minutos.
Em seu livro Grafología Teórica Y Metodológica, o professor Jaime Tutusaus Lóvez, faz uma brilhante explanação sobre a o trabalho de “interpretação prática do grafólogo”. (reputo este livro como obrigatório para os grafólogos)

O renomado autor ainda discorre sobre o método clínico de diagnóstico grafológico:
“O Método Clínico utiliza a chamada “psicologia compreensiva e participativa”, imediata (Einfuhlung) que se baseia na intuição versátil, empática, multifacetada, feita de estimativas controladas para o conhecimento coerente dos processos psíquicos do homem. A intuição (“insight”) é uma compreensão direta, global e repentina da organização espontânea do conjunto unitário”. Pág. 244.

Na escola alemã destaca a importância da Primeira Impressão Geral no grafismo. Nela o grafólogo vai sintetizar a integração do Espaço, Forma e Movimento.

Poderia me estender por várias páginas relatando os mais diversos autores sobre a importância deste tipo de observação. O que desejo agregar aqui é a estado que os japoneses chamam de Mushin.
Observem alguns trechos do texto: http://en.wikipedia.org/wiki/Mushin

Mushin (無心; Japanese mushin; English translation "no mind") is a mental state into which very highly trained martial artists are said to enter during combat.

The mind could be said to be working at a very high speed, but with no intention, plan or direction.

However, mushin is not just a state of mind that can be achieved during combat. Many martial artists train to achieve this state of mind during kata so that a flawless execution of moves is accomplished — that they may be achieved during combat or at any other time.
Voltei. Para compreender veja o vídeo:
O guerreiro não compreende os movimentos dos oponentes, a mente está ocupada por inúmeros pensamentos.

Aqui o samurai se antecipa aos movimentos dos demais. Ele sabe o que os outros os movimentos que os adversários vão realizar.


Acredito que se o grafólogo tiver grande experiência, uma biblioteca mental com mais de mil escritas estudadas e entrar neste estado, certamente vai conseguir prever outros MOVIMENTOS na escrita. O “combate” já está delineado em seus pensamentos. A simples observação da escrita, mesmo que somente por alguns segundos e a fixação em somente um sinal, vai internalizar “toda” escrita de forma inconsciente.

Reconheço, mais uma vez, que posso estar exagerando, talvez. Por minha experiência, tenho certeza que com treinamento o aluno pode aprender isto na grafologia.
Tempo de aprendizagem: sim, entre dez e quinze anos, acompanhado por um grafólogo experiente. Ou mais.

Sem esquecer que o grafólogo vai ter que estudar normalmente as teorias de grafologia e realizar análises para atingir este estado. 

Na terceira parte, vamos estudar como “fatiar fino”.







Paulo Sergio de Camargo
Grafologia - Linguagem Corporal
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Teoria dos Traços Catalisadores I


A questão aqui apresentada não deixa de ser polêmica. Partindo de uma hipótese e depois de estudá-la de modo científico é que chegamos à determinada conclusão.
A hipótese apresentada deve gerar alguns bons questionamentos, mas pela minha experiência até o presente momento e pela quantidade de casos estudados, tenho certeza que estou no caminho certo.

Questão:
Será que ao observar apenas um traço no texto, nada mais que um traço, o grafólogo experiente pode relatar todo o perfil grafológico e psicológico do escritor.
Em outras palavras, numa rápida visão e observando apenas um traço o grafólogo pode descrever outros possíveis traços grafológicos que irão aparecer na escrita? E sem observar mais nada traçar o perfil psicológico do escritor?

Caso 01. A ficção.
Há anos assisti ao filme “Caçada ao Outubro Vermelho”. Mostrava os ecos finais da Guerra Fria. Todavia uma cena me impressionou e a guardei durante anos. Numa cena o operador de sonar olha a tela do aparelho e não vê nada, mas diz ao capitão do submarino que o submarino russo estava em determinado ponto. O capitão retruca ao marinheiro, se vai acreditar nele ou em um aparelho que custa milhões de dólares e demorou anos para ser desenvolvido. O capitão acredita no marinheiro - que por sinal estava certo.
Assista o final da cena:     https://www.youtube.com/watch?v=y7g6dKncO-I

Em espanhol veja a cena:  https://www.youtube.com/watch?v=vMeJNUllPtg   42.04 seg. e 44.00

 

Caso 02. A realidade
São Paulo, Capital.
Um experiente radiologista observa a radiografia dos pulmões da paciente e conclui que existe em determinado local um ponto escuro e que precisa ser avaliado com mais intensidade. Todavia outro três especialistas não observam nada naquele Raio X. Dois médicos radiologistas e um pneumologista são chamados para observar a chapa. Nenhum dos três consegue ver o referido ponto.
- Mas estou vendo ele aqui! Diz o radiologista.
- Então vamos fazer uma tomografia computadorizada.
Evidente que pelo teor do artigo todos vocês já estão cientes dos resultados da tomografia computadorizada.
Exatamente. O referido ponto escuro e preocupante existia e estava exatamente lá onde o radiologista apontava.


Caso 03. A pesquisa científica
Malcolm Gladwell cita em seu livro “O que se passa na cabeça dos cachorros”, Ed. Sextante, a pesquisa da psicóloga experimental de Harvard, Nalini Ambady feita em conjunto com Robert Rosenthal. (http://en.wikipedia.org/wiki/Nalini_Ambady -http://en.wikipedia.org/wiki/Robert_Rosenthal_(psychologist)
Nalini deu aos alunos (que não tinham avaliado os professores) um vídeo mudo de 10 segundo para avaliarem os professores em sala de aula. Não apareciam alunos no vídeo. Os alunos não tiveram dificuldades em avaliar 15 (quinze) traços de personalidade dos professores.
Depois reduziu para 5 segundos e finalmente para 2 segundos. As correlações destas avaliações foram comparadas com as feitas pelos alunos que participaram das aulas durante todo o semestre. As correlações entre as avaliações são espantosas.
O aluno sem conhecer o professor, avaliou em dois segundos da mesma maneira que aquele que participou de aulas durante todo o semestre.

Caso 04. Grafologia
Há anos me mostraram uma escrita sem assinatura para eu dizer algumas características da personalidade da pessoa.
O observar a escrita, numa fração de segundos me concentrei em apenas uma letra:
A letra inicial E grega.
Em raro momento de despreocupação e autoconfiança, avaliei que não precisava mais de nada, apenas aquela letra me deu o perfil do escritor. Discorri, entre outras características que era alguém culto, sensível, extremamente ligado as artes, a cultura etc. Tratava-se de uma pessoa realmente singular, um artista nato no sentido da palavra.
Durante alguns anos me perguntei como cheguei àquelas conclusões precisas sobre Carlos Drummond de Andrade.




  
Questões posteriores
Depois de várias experiências, tive certeza que poderia avaliar, em determinados casos, uma escrita somente por meio de um traço e com boas doses de acerto.
Aqui é bom de ressaltar o seguinte: ao olhar a escrita por menos de um segundo e me fixar apenas em um traço e depois não observar mais a escrita; certamente meu subconsciente já internalizou toda escrita em si.


Minha questão posterior foi pergunta:
Será que isto pode ser ensinado aos alunos?

Nos próximos artigos vou tentar definir o que são traços catalisadores e como observá-los. De antemão digo que não existem traços catalisadores em si, mas traços que pela dinâmica da escrita se tornam catalisadores.



Para quem deseja se adiantar:
A estátua de Kouros
  


Fatiar fino

Mais ainda