segunda-feira, dezembro 14, 2020

Grafologia Estudos. Gesto gráfico Bico de Pelicano.

 

Bico de Pelicano


 
Existem centenas de signos gráficos na escrita, cabe ao grafólogo interpretá-los de acordo com a regras da grafologia. Todo sinal, por mais simples que seja, precisa necessariamente pertencer a uma espécie grafológica. Alocado a determinada espécie, obrigatoriamente está incluído em um gênero. Os sinais, portanto, são modos de determinadas espécies, assim o mesmo sinal, pode pertencer em duas espécies (dificilmente ao mesmo tempo), de acordo com o modo como é executado.

 

Dois princípios básicos da escrita:

-  A escrita é ao mesmo tempo manifestação motriz e intelectual: A mão escreve, o cérebro comanda.

-  O exame da escrita fixa-se em duas funções essenciais:

Ø  MOTRICIDADE   

Ø  INTELIGÊNCIA

 

Em linhas gerais e sem maiores considerações, uma criança de 3 anos tem inteligência, mas não motricidade para escrever. O macaco de dois anos possui excelente motricidade, mas não tem inteligência para escrever.

A comparação, a princípio é esquisita, todavia serve facilmente para definir os dois parâmetros. Desta forma a maturidade gráfica nem sempre é fácil de ser atingida, não por outra que crianças passam oito anos na escola e não conseguem escrever.

Primeiramente temos de definir os quatro principais vetores da escrita. Entramos no terreno da motricidade.


Os principais gestos são:

Ø  Adução

Ø  Abdução

Ø  Flexão

Ø  Extensão

 

As ações articulares ocorrem em torno de um eixo horizontal ou transversal e incluem os movimentos de flexão e extensão.
 

Abdução: Movimento no plano frontal, o traço se move para longe da linha sagital (média) do corpo.

Adução:  Movimento no plano frontal, o traço se move para a esquerda.

 

Na flexão, o movimento do traço se realiza no plano sagital. De cima para baixo. O traço é realizado em direção ao corpo. Existe tensão. O traço busca o centro do “eu”, ventromedial.

Na extensão, o movimento do traço também se realiza no plano sagital, todavia de baixo para cima. Afasta-se do corpo.

A extensão pode ocorrer quando determinados traços (letra g, por exemplo) voltam para a posição anatômica inicial. Disto resultam diversas interpretações, este “jogo” de movimentos flexão/tensão resulta na elasticidade do traço.

É óbvio que esta percepção espaço-temporal é realizada de acordo com a motricidade e inteligência do escritor, assim a percepção conceitual do escritor vai ser revelada na escrita. Cabe ao grafólogo interpretar estes movimentos.

 

Nos dedos temos o movimento de flexão que é realizado pelos músculos interósseo dorsal, interósseos palmares, lumbricais, flexor curto do dedo mínimo, flexor superficial dos dedos e flexor profundo dos dedos (BATES; HANSON, 1998; DÂNGELO; FATTINI, 1997).

Já a extensão dos dedos é realizada pelos músculos interósseo, lumbricais e extensor dos dedos (BATES; HANSON, 1998). Outro movimento realizado pelos dedos é o de adução que é executado pelos músculos interósseos palmares.

Enquanto a abdução é realizada pelos músculos interósseos dorsais e o abdutor do dedo mínimo (DÂNGELO; FATTINI, 1997).

O complexo articular do punho e da mão mudaram radicalmente ao longo da evolução humana.

O Polegar capaz de realizar a oposição é a mais importante delas.

Tal estrutura possibilitou a construção de ferramentas, da escrita, das artes.

Os quatro gestos (Adução, Abdução, Flexão, Extensão) são executadas em linhas retas. A combinação entre eles possibilita a infinidade de novos traços. Ou seja, as curvas são provenientes da combinação destes traços.

A maior parte dos traços realizados no ato de escreve é uma combinação complexa destas quatro formas básicas de movimento. As formas básicas, são em teoria, mais fáceis de serem executadas, portanto as alterações nestes traços quando ocorrem sinalizam algumas características de motricidade no escritor. Por exemplo: um traço vertical reto com tremores é por demais importante para ser deixado de lado na observação gráfica.

Para o perfeito funcionamento do ato de escrever se faz necessários a correta postura ao sentar e a perfeita maneira de segurar a instrumento escrevente.

 

O Bico de pelicano

O bico de pelicano é executado de várias maneiras. Somente com bom nível de experiência o grafólogo consegue determinar o início e o fim do traço. O traço de ataque e o de fuga estão entre as grandes preocupações do perito grafotécnico no estudo das falsificações.

No bico de pelicano partes do traço são curvos e partes retas. Necessariamente existe um ângulo que é a junção a curva com o traço, ou seja, existe a mudança brusca da direção. O traço que caminha em uma direção, volta praticamente na direção oposta.

O traço reto pode inicial ou final, embora a forma final seja a mesma. O traço reto é executado no plano frontal e o movimento pode ser de Abdução (para a direita) ou Adução (para a esquerda).

A parte curva do traço também pode inicial ou final, mas sempre será uma combinação vetorial dos quatro traços.

Os movimentos e suas direções, determinam características grafológicas, assim se o traço inicial for a curva, os movimentos são mais complexos, envolvem altruísmo, sedução, envolvimentos, amenidades. Os traços retos são mais diretos incisivos, decididos. 

A maior parte do movimento humano é uma combinação complexa das formas básicas de movimento. Ao se analisar o movimento a partir da perspectiva mecânica, é prático separar movimentos complexos em seus componentes linear e angular (HALL, 1991).

 

 

Vejamos os Tipos

Tipo I

Traço de abdução inicial. Traço reto. 

 

A seta indica o traço de ataque. O traço de fuga termina na zona superior.

O bico de pelicano, em termos, comportaria o ângulo C de Moretti.

 

Projeção para o futuro, quando mais firme e preciso, maior capacidade de decidir. O tamanho do traço indica a quantidade e energia colocada naquilo que realiza.

Terminado o traço horizontal existe uma brusca guinada de direção. Neste ponto a traço reto sofre um freio brusco e então se inicia a curva. Esta mudança específica muito bem o traço de pelicano, mescla ângulo com curva. Nesta volta o traço parte para a zona superior, das ideias, do consciente. Ou seja, vai refletir sobre as decisões tomadas.

Embora a subida final muitas vezes seja realizada em curva, não se deve excluir a interpretação de um traço final vertical, todavia que seja sempre um gesto de extensão, ou seja, relaxamento.

No caso ocorre uma volta ao passado, a linha é abaixo do traço inicial, portanto, provavelmente ligada a zona inferior, materialismo, inconsciente. O escritor volta para revisar a decisão tomada de forma intensa e direta. No bico de pelicano clássico, como assim entendemos, este traço não corta o traço inicial, mas quando isto ocorre é muito pouco.

 

Para Michon, qualquer que seja o tipo de curva (não define que seja guirlanda ou arcada) sinalizará, pelo menos, que o caráter do escritor não é privado de doçura. (observe que no século XIX, primórdios da grafologia, os termos utilizados não tinham a enorme carga psicológica e até mesmo empresarial que possuem atualmente.)

No livro Système de graphologie, (1875), pág.  297, Les passions), Michon enfatiza “empurrado para o excesso, a intensidade destrói a virtude”. Mais ainda, quando diz: "Quanto menos ângulos existirem na escrita, maior será o lado doce." (pág. 190), até os dias atuais parece indiscutível.

No mesmo livro (Syst, p.192), o abade assinala a equação "curva = suavidade", ou, mais exatamente, "qualquer curva é um gerador de gentileza". Isto continua válido até os dias de hoje.

Mais tarde irá afirmar que "qualquer curva é um gerador artístico”. Alguns sinais estudados por Michon exemplificam de maneira magistral suas teorias, como por exemplo a letra o D lírico, indicativo de criatividade. (Amplio em meus estudos este significado, pois veja no D lírico a forma humana de expressar graficamente a curva de Fibonacci.)

Basta refletir um pouco, para criar o autor necessita de “soltar” as rédeas da imaginação, a tensão do ângulo certamente é contrária a isto.

Observe que no livro Système de graphologie (06 fevereiro 1875), no capítulo:

IV Physiologie graphique. Fonctions et combinaisons des traits (pp. 85-128)

 1° Du trait considéré comme ligne droite

 2° De la courbe et de l'angle

 3° De la direction des lignes

                            

Michon escreve sobre curvas e ângulos trinta anos antes do Girolamo Moretti. Não consta, nos primórdios, que o padre Italiano tenha tido acesso a obra de Michon, todavia a intuição dos dois grandes mestres, os leva a interpretar a dicotomia ângulo/curva como importante no estudo grafológico, mesmo sob pontos de vistas diferentes.

 

Tipo II

Traço curvo inicial. Adução no traço final.




A seta indica o traço de ataque. O traço de fuga é regressivo e termina na zona média.

O bico de pelicano, em termos, comportaria o ângulo A de Moretti.

  

O traço se inicia na zona superior faz a curva que termina no lado direito e se transforma num traço de adução, voltado para a esquerda.

Evidente que o grafólogo não descarta a análise da pressão, velocidade, tamanho, forma etc. O movimento iniciado em curva é bastante significativo. Para tal recorremos a Moretti.

Curva é signo substancial da vontade. Tendência ao altruísmo, a bondade, profundidade de sentimentos, preocupação com o bem-estar dos demais, disponibilidade para a compreensão, para a compaixão, aceitando com benevolência as observações feitas, mesmo que não sejam justificadas. Aptidão intelectual para compreender e se aprofundar nos conceitos. Toma, com abertura mental e docilidade, as teses e propostas avançadas dos demais, sendo isto, uma expressão de altruísmo e benevolência.

 

Ocorre a preocupação de ser consequente naquilo que realiza. O gesto voltado para a esquerda é considerado uma volta ao passado, e quando ocorre na zona média, também pode ser considerado, em alguns casos, sentimentos autopunitivos, o escritor se policia naquilo que realiza, portanto é consequente nas atitudes e tomada de decisão.

 

 

Tipo III


Traço curvo inicial. Abdução no traço final



O traço final é voltado para direita, futuro. Neste caso o cruzamento entre da linha indica a repressão dos impulsos. Quanto mais ele se lança à direita depois de cruzar o tempo, maior a impulsividade. O traço lançado mostra pouca contenção dos impulsos e a proporção da parte esquerda e direita do traço deve ser considerada. O ângulo a esquerda, a medida entre contração e disparo. Para que se produza um traço como este, o autor necessita obrigatoriamente ter fortes energias. As pulsões instintivas nem sempre se equilibram de forma razoável. 




O escritor inicia o movimento em curva na zona superior, mas volta para o passado, ou seja, necessita revisar as vivências para depois ir em busca do “futuro”. Este tipo parece ser o mais decidido dos quatro, já que o traço final é reto (abdução, da esquerda para a direta) voltado para o futuro.

Quando este traço corta o traço curvo, o escrito não fica confinado as reflexões iniciais (traço curvo), ele se projeta para o futuro sem medos. A maneira como termina o traço (acerado ou massivo) completa a interpretação dele.

Traço final maior que o traço curvo e lançado: existe a desproporção entre aquilo que o escritor reflete e decisão tomada. Em outras palavras pode refletir, mas a decisões algumas vezes é maior ou mais destemperada. Em todo caso, existe a capacidade de decidir e nunca se exclui as consequências dos atos que irá praticar.


 

Tipo IV

Traço Adução inicial. Traço curvo final.


  

 


Neste caso, a “decisão” de voltar ao passado é direta e rápida. Não existem dúvidas do que faz, como vimos anteriormente a interpretação depende do tamanho do traço, da forma do bico, curva ou ângulo etc. Quanto menor o ângulo de mudança, maior a repressão do impulso, maior a agressividade ou brusquidão na tomada de decisões, nas mudanças de opinião. Aqui, como nos demais exemplos, existe similaridade com os ângulos A e C (curva) de Moretti.

Logo após o movimento se torna mais complexo (curva) ou seja. A “decisão” inicial é completada pela interpretação resultante da curva. Pensa e reflete de forma rápida, todavia é bem mais amena e consequente no plano da realização.

 

 

Observações importantes

A direção do traço divide-se em: progressiva, regressiva, mista, ao revés e com torções.

A direção do traço está intimamente ligada às nossas motivações e mecanismos de compensação. Os traços são executados no sentido horário ou anti-horário.

A escrita ocidental parte da esquerda para a direita – escrevemos de “dentro” para “fora” de nosso corpo –, logo a escrita sinistrógira é um gesto voltado para dentro que expressa “instinto de apropriação”, com a energia dirigida para o interior. Temos de levar em conta também a zona em que o gesto predomina.

Na escrita dextrógira, o gesto é dirigido para a direita, para fora. O caráter dextrógiro encontra-se ao lado da “liberação d’alma” e o sinistrógiro, ao lado da “constrição” (Klages).

O gesto à esquerda não é, na maioria das vezes, um gesto forte, porque exprime exclusão da força como objetivo primordial. 

Como o indivíduo não faz uso de sua força, é natural que ele procure outros meios para conseguir seus intentos, como sedução, convencimento etc. Indica ainda calma e receptividade.

 

Foi descrita pela primeira vez pelo Dr. J. Héricourt, no Bulletin de la Société e Psychologie physiologique, em 1897, no qual chama a atenção sobre o caráter diferencial das escritas que têm os traços dirigidos para a esquerda e para a direita. Pierre Humbert prefere usar os termos progressiva e regressiva em detrimento da denominação de Héricourt.

Para Jamin, a progressiva é a síntese das escritas: curva, centrífuga, combinada, ligada, acelerada, simples, simplificada e sóbria, em suas manifestações mais afortunadas.

 

Exemplos


1.      O golpe de sabre (acima) e logo abaixo o bico de pelicano tipo III.  

Presidente Jair Bolsonaro.

 



Presidente João Goulart

 

 

 

Considerações finais

Trata-se de um traço complexo que une movimentos curvos com retos. Por definição quem escreve assim deve possuir habilidade gráfica (de acordo com Klages), mas também um certo dom gráfico (Klages).

Desta forma, pelas minhas estatísticas, este traço dificilmente ocorre em escritas caligráficas e pessoas com pouca escolaridade.

A legibilidade das assinaturas está sempre comprometida.

O gênero quando levado em consideração: mais comum em homens do que mulheres. 

Idade: escassa em menores que 20 anos, mais presentes em acima de 30 anos.

Nas pesquisas observei que grande parte das pessoas com este traço estão, de alguma forma ou de outra, em posições de liderança, nos mais diversos graus. Isto não é surpreendente, pois o traço de pelicano tem fortes similaridades com o golpe de látego e o golpe de sabre, guardada as devidas proporções.

O traço quando passa encima do anterior também sinaliza que o escritor deseja ter a última palavra e/ou se desdiz daquilo que afirmou anteriormente.

O bico de pelicano seria também um sinal de liderança, isto é confirmado pelas estatísticas, a maioria dos exemplos estudados estão presentes em escritas de pessoas que estão em posição de liderança.

Existe espaço e exemplos para considerar e aprimorar estas interpretações, todavia que ao longo dos 10 anos de estudos, creio que algumas (das interpretações) são consistentes e sólidas. 




Paulo Sergio de Camargo

Neurociências  -  Linguagem Corporal - Grafologia 

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sexta-feira, outubro 16, 2020

 




                                                               

EVOLUÇÃO NA IDENTIFICAÇÃO DO GÊNERO FEMININO EM ESCRITAS. 

SUGESTÃO DE UMA HIPÓTESE.

  

1.          Introdução

Desde o início do século XX existem estudos para determinar o sexo de acordo com a escrita. Na atualidade, o uso de algoritmos ampliou a gama de recursos à disposição do pesquisador, todavia algumas vezes estes se depararam com fórmulas complicadas e dificilmente compreendidas por pesquisadores não versados em matemática. A observação do sexo na escrita se reveste de importância para perícias grafotécnicas, em especial cartas anônimas, todavia também é o ideal para a perfeita compreensão de como funciona o gesto gráfico e assim determinar novas técnicas de ensino e aprimoramento a escrita, especialmente em termos de legibilidade. É notório que existem algumas diferenças básicas entre a escrita de meninos e meninas no início da aprendizagem. A pressão no papel e a organização do texto são melhores nas meninas, assim como é o deficiente desenvolvimento da escrita nos meninos, fato que pode se tornar uma preocupação para educadores. É de conhecimento que existem fatores cognitivos e sociais nessa discrepância, assim como a fisiologia e psicomotricidade. Antes de tudo é por demais importante frisar que este autor afaste qualquer tipo de interpretação determinista. Embora o presente trabalho tenha enfoque na dimensão de gênero na escrita, outros aspectos são por demais relevantes e não foram deixados de lado durante o constructo do artigo. Gomes é por demais assertivo quando escreve a este respeito: Convém lembrar que os processos de aprendizagem e desenvolvimento envolvem tanto aspectos sociais, históricos, culturais, linguísticos, como aspectos cognitivos e afetivos. Todos esses aspectos são processos construídos e não são inerentes à condição étnica, de gênero ou de classe social (GOMES, 2004) – o que torna injustificável toda e qualquer atitude preconceituosa ou discriminatória. Contudo o objetivo primordial deste trabalho é mostrar que existe um traço específico na escrita de mulheres que praticamente não aparece nas escritas masculinas. Após apresentar a evolução das pesquisas para determinar gênero masculino ou feminino na escrita, é proposta uma nova abordagem que facilita a observar imediata do gênero feminino. Esta pesquisa inédita abre um vasto campo de possibilidades, pois introduz o conceito de “marcador gráfico” na escrita. A mais imediata utilização está no campo da grafotécnica para verificar cartas anônimas e falsificações. Fica evidente que o conceito se amplia além da observação de gênero na escrita para outros tipos de avaliações, sendo que por hipóteses seria possível até mesmo detectar doenças mentais e físicas na escrita.   

 

2.          REVISÃO DE LEITURA

A literatura sobre os mais diversos tipos de estudos da escrita é ampla, contudo, textos específicos sobre a identificação de gêneros é escassa. Desde os primeiros anos do século vinte, o tema tem sido preocupação dos grafotécnicos na identificação de documentos e cartas anônimas. Todavia a percepção sempre foi muito mais baseada na intuição e vivências dos especialistas do que exatamente em ciência. Outro dado que deve ser levado em conta é que durante séculos acreditava-se que escrevemos com a mão, fato que perdura até os dias atuais, mesmo em pessoas de alta escolaridade. A mão é apenas um instrumento, sendo na verdade o cérebro quem comanda a escrita. Na realidade, a escrita é uma forma de linguagem altamente sofisticada que necessita ser treinada e aperfeiçoada por longos anos. Por mais óbvio que possa parecer, escrevemos com o cérebro, todavia a primeira comprovação científica disto ocorre apenas no ano de 1895 quando o psiquiatra alemão William Preyer descreve a fisiologia da escrita como um ato cerebral. No mesmo trabalho, é inserido os primeiros estudos experimentais que focam a pressão exercida pela mão e a velocidade da escrita. (PREYER, 1895).  O autor não chega a diferenciar dois parâmetros importantes que são utilizados atualmente: a pressão, como força que o material escrevente faz sobre o papel; e a tensão, força que os dedos da mão imprimem no objeto utilizado para escrever. Estes dois parâmetros são indicativos da tensão interna do escritor e influem de forma decisiva na forma e ritmo na escrita. Segundo estes estudos, a escrita masculina é caracterizada por fazer com que a velocidade aumente com a pressão e a escrita feminina pelo fato de que a velocidade aumenta à medida que a pressão diminui. (PREYER, 1895).  Aqui existe uma clara diferenciação de gênero na escrita, contudo isto nem sempre é verdadeiro, pois existem escritas masculinas e femininas que fogem totalmente deste padrão. 

A possibilidade de que o gênero pudesse ser determinado a partir da escrita foi negada por Michon (MICHON, 1872), embora Crépieux-Jamin, 1872 afirmasse que este tipo de avaliação era perfeitamente possível. Em junho de 1903, Alfred Binet apresentou suas primeiras pesquisas sobre a determinação de gênero por meio da escrita. A investigação teve apoio do mais famoso especialista em grafologia da época, Jules Crépieux-Jamin. No estudo de cem grafismos, Jamin e colaboradores chegaram a acertos de 75%, 78,8%, uma proporção bem acima do acaso (50%). (BINET, 1903) Os resultados também mostraram que os especialistas (grafólogos) eram falíveis. Os acertos dos não especialistas nas mesmas cem observações, chegaram a 73% para os professores de escolas e 63% para meninas de 18 anos sem educação escolar. (BINET, 1903)  Convém lembrar que na mesma pesquisa, em relação à identificação por idade, os dados mostram que Crépieux-Jamin cometeu erros de até 5 anos em média, enquanto os não especialistas apresentaram altas discrepâncias de 17 e 18 anos mais velhos ou mais jovens do que a idade real do escritor. (BINET, 1903) Temos que considerar que no momento citado a grafologia era uma ciência jovem, sem pesquisas e estudos de grande monta.

Questionado quanto aos critérios utilizados para a determinação do sexo na escrita, Crépieux-Jamin, cujos índice de acerto foi 78,8%, enumerou várias características gráficas encontradas nas escritas dos homens: limpeza, simplicidade, firmeza da letra. (SERGUEÏ et al, 2016) Enquanto nas mulheres foram observadas características como: complicações, exageros, traços insignificantes e incoerências, de além superelevações nas letras "r" e "s". (SERGUEÏ  et al, 2016) Entretanto, os critérios utilizados pelos especialistas para determinar a diferença de gênero não foram satisfatórios. A conclusão de Binet foi bastante suscinta, relatando que o gênero pode ser revelado pela escrita e que os especialistas (grafólogos) obtém resultados acima dos leigos, todavia, estes também alcançam acertos acima de 50%. (SERGUEÏ et al, 2016)

Florence L. Goodenough, em artigo publicado no ano de 1945, demonstra que as pessoas são mais aptas do que realmente se acham capazes em avaliar o gênero na escrita. As conclusões do estudo vão de encontro aos estudos de Binet e Jamin (1903), todavia tem-se que considerar que a questão social de gênero discutida atualmente não foi levada em conta.

Pesquisas mais recentes, como Burr, 2002, analisam a identificação de gênero na escrita de adultos. As avaliações das escritas realizadas pelos participantes tiveram como base características estilísticas para diferenciar os gêneros. Assim, a escrita feminina foi rotulada com adjetivos como "grande", "arredondada" e "cuidadosa” e as masculinas jugadas como "pontiagudas", "inclinadas", "confiantes" e "apressadas”. (BURR, 2002) Quando não era indicado aos participantes o sexo do escritor, estes julgaram que as escritas masculinas e femininas eram significativamente diferentes. Nestes casos as escritas femininas foram rotuladas como "cuidadosas", "limpas" e "regulares/consistentes" e as masculinas como "apressadas", "irregulares" e "desarrumadas/desalinhados". (BURR, 2002) Os termos utilizados são altamente imprecisos e vagos. Os resultados sugerem que os avaliadores podem ter sido influenciados por estereótipos de gênero, levando a erros em alguns de seus julgamentos. Na mesma linha das pesquisas anteriores, o referido estudo assinala que a precisão nas avaliações era significativamente maior do que o acaso (50%) e as doses de acertos eram aprimoradas com a prática. (BURR, 2002)

Os estudos conduzidos por Hartley, 1991 mostram que realmente existem diferenças substanciais entre a escrita de meninos e meninas e que elas são claramente reconhecidas por crianças de sete a oito anos de idade. Porém, tanto professores como os alunos ainda trabalham com estereótipos culturais populares. Neste, como nos demais estudos, fica demonstrado de forma bastante objetiva a facilidade com  que o leigo consegue acertos acima da média nas avaliações, assim como os acertos dos especialistas são sempre maiores.

A abordagem neurobiológica utilizada por Filippos Vlachos & Fotini Bonoti (FILIPPOS et al, 2006) mostra as diferenças da idade e do sexo no desempenho da escrita infantil. A escrita espontânea de duzentas e dez crianças de 7 a 12 anos foram  avaliadas mediante cópia e escrita de ditados. Utilizou-se para tal a escala de escrita da bateria neuropsicológica de Luria - Nebraska. Foi observada que a tendência a melhor proficiência na escrita na infância está relacionada ao sexo; os meninos tiveram desempenho muito pobre em relação as meninas. A psicomotricidade, em termos de escrita, das meninas é muito mais aprimorada que a dos meninos. (FILIPPOS e outros, 2006) Cabe lembrar que para o antropólogo inglês Desmond Morris, 2005, a força das mãos masculinas é, em média, duas vezes maior que a feminina. Ao longo da evolução humana a força foi atingida opondo-se o polegar aos demais dedos e a precisão apenas as pontas de dois dedos. (MORRIS, 2005) Neste caso, por diversos fatores, a precisão da mão feminina é imbatível, inclusive por fatores hormonais que dão mais flexibilidade as juntas das mãos femininas. Desta forma, a escrita das meninas é muito mais precisa que dos meninos. (MORRIS, 2005)

A preocupação em relação ao progresso relativamente baixo no desenvolvimento da escrita dos meninos é um fator preocupante na educação em todo o mundo, em especial no Brasil, principalmente pelos mais diversos tipos de disparidades que são peculiares a um país dimensão continental. Fatores cognitivos e sociais são propostos como possíveis relatos dessas discrepâncias. Estudo realizados (ADAMS e outros, 2019) examinaram as diferenças nas habilidades cognitivas e como a escrita ou as habilidades de processamento fonológico poderiam explicar as diferenças de gênero na escrita inicial. No Reino Unido, o aumento dos padrões na escrita infantil é uma prioridade educacional atual, todavia existe a aparente resistência dos meninos aos esforços para melhorar suas habilidades de escrita, sendo uma preocupação particular das autoridades daquele país. (ADAMS e outros, 2019) Números recentes do Reino Unido relataram que entre 15 a 19% menos meninos do que meninas alcançaram os padrões esperados de escrita ao deixar as escolas primárias do país com 11 anos de idade. (ADAMS et al, 2019) Isso é corroborado por evidências consistentes de uma vantagem feminina em várias avaliações nacionais do desempenho da escrita (Department for Education, 2016; PERSKY, DANE & JIN, 2003).

Alguns estudos, como Armenta, 2016, vão mais além ao examinar as possíveis relações entre a escrita e duas formas sociolinguísticas variáveis: (1) idade e (2) sexo do escritor. A autora cita outros artigos que relatam a precisão na identificação de gênero na escrita. Neste mesmo estudo é analisada a potencial correlação numérica entre a legibilidade em escala de amostras manuscritas e a identificação dos observadores do sexo do escritor e idade com base nos dados da pesquisa. (ARMENTA, 2016) Esse tipo de pesquisa se refere a estudos de percepções e atitudes, marcadores e identificações linguísticas e às variações interlinguísticas. Como em outros artigos, Amenta não deixa de frisar: “Claramente, os indivíduos podem formar julgamentos e preconceitos baseados em fatores como sotaques, antecedentes raciais e orientações socioculturais.” (ARMENTA, 2016)

Atualmente, novas pesquisas têm utilizado a inteligência artificial (SAHA et al, 2018) e o aprendizado profundo de computadores para atingir resultados extremamente positivos. No referido estudo, os autores atingem a precisão de 91,85%. 

Pesquisas com neuroimagens abordam a questão da base neural das diferenças sexuais na escrita, uma forma única de linguagem e comportamento motor (YANG et al, 2020). Homens e mulheres demonstraram que utilizam diferentes regiões cerebrais de maneira específica para escrever, ou seja, a área de Exner, e isso tem uma ligação plausível às diferenças comportamentais de sexo na escrita.  (YANG et al, 2020)

 

Sugestão de uma hipótese

Ao longo dos últimos trinta anos foram observadas, de modo empírico, cerca de vinte mil escritas dos mais diversos tipos. Cabe realçar que o objeto desse estudo são as escritas e não as pessoas. Assim, da mesma forma que existem marcadores linguísticos e marcadores somáticos (ROCHE, 2020), foi levantada a hipótese de existirem marcadores gráficos que indicariam a individualidade na escrita.

A hipótese levanta uma série de novos questionamentos que somente serão resolvidos com pesquisas mais profundas e protocolos mais rígidos para que se confirme a observação inicial.

Para compreender melhor o traço temos que recorrer a fisiologia do movimento escritural. Os principais gestos são: Adução, Abdução, Flexão, Extensão. (BATES et al, 1998). As ações articulares ocorrem em torno de um eixo horizontal ou transversal e incluem os movimentos de flexão e extensão. A abdução é movimento no plano frontal onde o traço se move para longe da linha sagital (média) do corpo. E a adução é movimento no plano frontal onde o traço se move para a esquerda. (BATES et al, 1998).

Na flexão, o movimento do traço se realiza no plano sagital. De cima para baixo. O traço é realizado em direção ao corpo. Existe tensão. O traço é executado em direção do escritor, ventromedial. (BATES et al, 1998).

Na extensão, o movimento do traço também se realiza no plano sagital, todavia de baixo para cima. Afasta-se do corpo. A extensão pode ocorrer quando determinados traços (letra g, por exemplo) voltam para a posição anatômica inicial. (BATES et al, 1998). Disto resultam diversas interpretações, este “jogo” de movimentos flexão/tensão resulta na elasticidade do traço. É óbvio que esta percepção espaço-temporal é realizada de acordo com a motricidade e inteligência do escritor, assim a percepção conceitual do escritor vai ser revelada na escrita. Nos dedos temos o movimento de flexão que é realizado pelos músculos interósseo dorsal, interósseos palmares, lumbricais, flexor curto do dedo mínimo, flexor superficial dos dedos e flexor profundo dos dedos (BATES e al, 1997).

Já a extensão dos dedos é realizada pelos músculos interósseo, lumbricais e extensor dos dedos (BATES et al, 1998). Outro movimento realizado pelos dedos é o de adução, que é executado pelos músculos interósseos palmares. Enquanto a abdução é realizada pelos músculos interósseos dorsais e o abdutor do dedo mínimo (DÂNGELO et al, 1997). O complexo articular do punho e da mão mudaram radicalmente ao longo da evolução humana. O polegar capaz de realizar a oposição é a mais importante delas. Tal estrutura possibilitou a construção de ferramentas, da escrita, das artes. (DÂNGELO et al, 1997).

Os quatro gestos (Adução, Abdução, Flexão, Extensão) são executadas em linhas retas. A combinação entre eles possibilita a infinidade de novos traços. Ou seja, as curvas são provenientes da combinação vetorial destes traços. (BATES et al, 1998).

A maior parte dos traços realizados no ato de escrever é uma combinação complexa destas quatro formas básicas de movimento. As formas básicas, são em teoria, mais fáceis de serem executadas, portanto as alterações nestes traços sinalizam algumas características de motricidade no escritor. Por exemplo: um traço vertical reto com tremores é por demais importante para ser deixado de lado na observação gráfica. Para o perfeito funcionamento do ato de escrever se faz necessários a correta postura ao sentar e a perfeita maneira de segurar a instrumento escrevente.

Este traço de abdução vai influir de maneira bastante positiva no ritmo da escrita, mas, como se sabe, embora se conheça muito sobre o desenvolvimento de aspectos cinemáticos da escrita, pouco se conhece sobre os dois princípios que governam a organização rítmica: Homotetia e Isocronia. Homotetia afirma que a razão entre as durações dos eventos motores únicos que compõem um ato motor permanece invariável e independente da duração total do movimento. Isocronia refere-se à relação proporcional entre a velocidade de execução do movimento e o comprimento de sua trajetória. (PAGLIARINI et al, 2017). A adesão precoce a esses princípios sugere que uma representação interna do ritmo da escrita está disponível antes da idade em que a escrita é realizada automaticamente. No geral, essas descobertas sugerem que, apesar de ser uma aquisição cultural, a escrita parece ser moldada por restrições mais gerais no planejamento de tempo dos movimentos (PAGLIARINI et al, 2017).

 

 

3.   CONSIDERAÇÕES FINAIS    

O princípio aceito nas perícias grafotécnicas em todo o mundo é que não existem duas escritas iguais. Após analisar dezenas de possíveis traços, foi encontrado um específico, que aparece somente em escritas de mulheres e é extremamente raro em escritas masculinas. Foi então utilizado para tal traço o termo marcador gráfico, que não foi encontrado na literatura de termos de perícias. O referido traço aparece na letra p (Anexo I), embora não seja incomum encontrá-lo em letras m e n. Nas observações de 1.200 escritas femininas os escores atingiram 16,42% das amostras. Já nas masculinas, de 1.100 amostras, foram observadas apenas duas ocorrências. É importante ressaltar que os dados foram tabulados de forma empírica e destas observações é que resulta a referida hipótese.

O traço identificado na letra p é um típico traço de Abdução, movimento no plano frontal, da esquerda para a direita. Em termos de escrita, é um gesto prático e direto, os gastos de energia para o próximo traço são, de certa forma, mais econômicos. Isto é fácil de ser observado em um traço de Adução, que parte do lado direito para o esquerdo. Assim como a escrita ocidental tem como linha de ação da direita para esquerda, o gesto de Adução puro e simples seria considerado regressivo e o consumo de energia seria desnecessário. Estudo de movimentos escriturais atualmente são comuns em todo o mundo (PLANTON et al, 2013), todavia a explicação para cada gesto em si é praticamente inexistente.

Uma vez atingidos os dois parâmetros, a escrita tende e ser mais rítmica, mais bem estruturada; pela a simples observação do gesto na letra P concluímos que escrita possui os dois parâmetros.

Poderíamos traçar várias hipóteses a serem testadas para encontrarmos as causas deste traço ocorrer predominantemente em mulheres, mas o objetivo do presente artigo é mostrar o potencial que este tipo de estudo pode trazer. As escritas com este traço marcador possui características específicas: Alto nível de legibilidade; espaçamentos regulares e constante entre palavras; linhas e letras; ligação entre uma letra em outra em forma de guirlandas; ausência de ligações em ângulos entre as letras, as letras em todas as palavras são ligadas (acima de 90%); letras ovais bem executadas; grafismo estabilizado; as linhas não se misturam; o movimento é controlado; a direção das linhas é retilínea em folhas em branco; a pontuação é precisa, os traços são limpos e sem borrões; o texto é organizado, a pressão é constante e firme, praticamente não existem espasmos de pressão. Desta forma o traço de abdução na letra p se constitui um excelente marcador da escrita que desejamos ser atingida depois de iniciado o aprendizado do modelo escolar.  Existem outros pontos importantes que devem ser considerados nas futuras pesquisas e que não foram considerados neste artigo de forma mais explícita. As variáveis culturais e sociais que atuam no desenvolvimento da escrita feminina ou masculina necessitam ser consideradas, especialmente tendo em vista as gritantes diferenças existentes nas mais diversas regiões do país. Com certeza as questões culturais e de natureza educacional modelam de forma intensa os comportamentos e suas formas de expressão na vida social.

Várias questões não foram relegadas para segundo plano por este autor: “Se as meninas têm melhor desempenho no aprendizado da escrita, porque isto não se torna uma vantagem extremamente visível em termos de sucesso nos anos posteriores, já que a escrita é uma competência social valorizada? Poderíamos criar meios de aprimorar isto para alavancar a igualdade de gênero em nosso país?

Aqui deixo a frase lapidar do Dr. Robert Olivaux, Pédagogie de l'écriture et graphothérapie, Ed. Masson,1991. ”O respeito ao outro, implica no respeito a sua escrita.”

 

 

Considerações finais

Desde as primeiras comprovações que a escrita é um gesto cerebral (PREYER, 1895) já existia a preocupação em identificar gêneros de forma científica na escrita. As conclusões de todas as pesquisas são bastante objetivas, embora os métodos e sistemas variem: sim, é possível identificar gênero na escrita. As primeiras implicações práticas estão na verificação de cartas anônimas e perícias grafotécnicas.

Todos os estudos convergem para vários pontos importantes: é possível identificar gêneros nas escritas; os leigos apresentam doses de acertos acima da média; os especialistas atingem escores acima dos leigos; a escrita das meninas é superior em qualidade a dos meninos. Os objetivos maiores se concentram no aprimoramento da qualidade da escrita (ADAMS et al, 2019), tanto nos meninos como nas meninas, todavia com especial atenção aos primeiros.

O potencial existe que, ao reconhecer as diferenças de gênero nas escritas, é possível criar métodos que possam aprimorar, tanto o desempenho escolar como o aprimoramento do ato de escrever em si.

 


4.    RELEVÂNCIA E IMPACTO SOCIAL 

Ao identificarmos as diferenças de gêneros nas escritas, é possível criar métodos e sistemas que ao facilitarem o aprendizado e aprimoramento, tanto dos meninos como das meninas, certamente vão aperfeiçoar a evolução da capacidade escolar do aluno em vários campos. O tempo que se gasta na tentativa de aprimorar o gesto escritural, em especial a legibilidade, é grande e altamente desproporcional aos resultados atingidos, sendo que muitas crianças com mais de cinco anos de alfabetização não conseguem escrever uma frase completa. A identificação por meio de traço marcador na letra é inédita e tem como principal característica a facilidade de ser observada a custo financeiro quase nulo, ao contrário de métodos sofisticados com ressonância magnética ou algoritmos. Uma vez que o traço na letra p seja observado na escrita, a identificação de gênero é imediata. Todavia a ausência dele não permite qualquer outro tipo de conclusão. Desta forma, como sequência desse trabalho, está a busca de novos traços que possam aprimorar a identificação de gênero, sendo que alguns já estão em fase adiantada. Com certeza são necessárias maiores investigações, inclusive protocolos mais rígidos que possam confirmar a hipótese aventada.

Convém realçar novamente que existem inúmeras variáveis culturais, sociais e históricas que atuam na construção da escrita e novas (variáveis), tais como computadores, tablets etc. Cabe ao pesquisador sempre as levar em alta conta de modo a evitar quaisquer tipos de percepções e/ou interpretações duvidosas e deterministas, que ofereçam margem à pré-conceitos.

O potencial para novas investigações é novo e amplo. Assim como os marcadores somáticos e linguísticos existem em grandes quantidades, aqui se aventam hipóteses de novos marcadores gráficos serem pesquisados, tanto nas escritas masculinas quanto nas femininas, não somente em questão de gêneros, mas também em outras áreas, como por exemplo na medicina. Já são conhecidos os estudos de micrografias e tremores na escrita de parkinsonianos e portadores de Alzheimer, mas não em termos de um traço específico (marcador). Somente pesquisas mais profundas e protocolos rígidos irão confirmar o grande potencial, da hipótese aqui traçada.

 

 

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YANG YANG  FRED TAM  SIMON J. GRAHAM  GUOCHEN SUN  JUNJUN LI  CHANYUAN GU  RAN TAO  NIZHUAN WANG  HONGYAN BI  ZHENTAO ZUO. Men and women differ in the neural basis of handwriting. First published:24 February 2020 https://doi.org/10.1002/hbm.24968

 

 

ANEXO I 





TCC aprovado no curso de Neurociências do Comportamento Humano. 
Ano 2020.  PUCRS

Texto adaptado para o formato do Blogg. 


Paulo Sergio de Camargo

Grafologia - Linguagem Corporal


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