sexta-feira, outubro 16, 2020

 




                                                               

EVOLUÇÃO NA IDENTIFICAÇÃO DO GÊNERO FEMININO EM ESCRITAS. 

SUGESTÃO DE UMA HIPÓTESE.

  

1.          Introdução

Desde o início do século XX existem estudos para determinar o sexo de acordo com a escrita. Na atualidade, o uso de algoritmos ampliou a gama de recursos à disposição do pesquisador, todavia algumas vezes estes se depararam com fórmulas complicadas e dificilmente compreendidas por pesquisadores não versados em matemática. A observação do sexo na escrita se reveste de importância para perícias grafotécnicas, em especial cartas anônimas, todavia também é o ideal para a perfeita compreensão de como funciona o gesto gráfico e assim determinar novas técnicas de ensino e aprimoramento a escrita, especialmente em termos de legibilidade. É notório que existem algumas diferenças básicas entre a escrita de meninos e meninas no início da aprendizagem. A pressão no papel e a organização do texto são melhores nas meninas, assim como é o deficiente desenvolvimento da escrita nos meninos, fato que pode se tornar uma preocupação para educadores. É de conhecimento que existem fatores cognitivos e sociais nessa discrepância, assim como a fisiologia e psicomotricidade. Antes de tudo é por demais importante frisar que este autor afaste qualquer tipo de interpretação determinista. Embora o presente trabalho tenha enfoque na dimensão de gênero na escrita, outros aspectos são por demais relevantes e não foram deixados de lado durante o constructo do artigo. Gomes é por demais assertivo quando escreve a este respeito: Convém lembrar que os processos de aprendizagem e desenvolvimento envolvem tanto aspectos sociais, históricos, culturais, linguísticos, como aspectos cognitivos e afetivos. Todos esses aspectos são processos construídos e não são inerentes à condição étnica, de gênero ou de classe social (GOMES, 2004) – o que torna injustificável toda e qualquer atitude preconceituosa ou discriminatória. Contudo o objetivo primordial deste trabalho é mostrar que existe um traço específico na escrita de mulheres que praticamente não aparece nas escritas masculinas. Após apresentar a evolução das pesquisas para determinar gênero masculino ou feminino na escrita, é proposta uma nova abordagem que facilita a observar imediata do gênero feminino. Esta pesquisa inédita abre um vasto campo de possibilidades, pois introduz o conceito de “marcador gráfico” na escrita. A mais imediata utilização está no campo da grafotécnica para verificar cartas anônimas e falsificações. Fica evidente que o conceito se amplia além da observação de gênero na escrita para outros tipos de avaliações, sendo que por hipóteses seria possível até mesmo detectar doenças mentais e físicas na escrita.   

 

2.          REVISÃO DE LEITURA

A literatura sobre os mais diversos tipos de estudos da escrita é ampla, contudo, textos específicos sobre a identificação de gêneros é escassa. Desde os primeiros anos do século vinte, o tema tem sido preocupação dos grafotécnicos na identificação de documentos e cartas anônimas. Todavia a percepção sempre foi muito mais baseada na intuição e vivências dos especialistas do que exatamente em ciência. Outro dado que deve ser levado em conta é que durante séculos acreditava-se que escrevemos com a mão, fato que perdura até os dias atuais, mesmo em pessoas de alta escolaridade. A mão é apenas um instrumento, sendo na verdade o cérebro quem comanda a escrita. Na realidade, a escrita é uma forma de linguagem altamente sofisticada que necessita ser treinada e aperfeiçoada por longos anos. Por mais óbvio que possa parecer, escrevemos com o cérebro, todavia a primeira comprovação científica disto ocorre apenas no ano de 1895 quando o psiquiatra alemão William Preyer descreve a fisiologia da escrita como um ato cerebral. No mesmo trabalho, é inserido os primeiros estudos experimentais que focam a pressão exercida pela mão e a velocidade da escrita. (PREYER, 1895).  O autor não chega a diferenciar dois parâmetros importantes que são utilizados atualmente: a pressão, como força que o material escrevente faz sobre o papel; e a tensão, força que os dedos da mão imprimem no objeto utilizado para escrever. Estes dois parâmetros são indicativos da tensão interna do escritor e influem de forma decisiva na forma e ritmo na escrita. Segundo estes estudos, a escrita masculina é caracterizada por fazer com que a velocidade aumente com a pressão e a escrita feminina pelo fato de que a velocidade aumenta à medida que a pressão diminui. (PREYER, 1895).  Aqui existe uma clara diferenciação de gênero na escrita, contudo isto nem sempre é verdadeiro, pois existem escritas masculinas e femininas que fogem totalmente deste padrão. 

A possibilidade de que o gênero pudesse ser determinado a partir da escrita foi negada por Michon (MICHON, 1872), embora Crépieux-Jamin, 1872 afirmasse que este tipo de avaliação era perfeitamente possível. Em junho de 1903, Alfred Binet apresentou suas primeiras pesquisas sobre a determinação de gênero por meio da escrita. A investigação teve apoio do mais famoso especialista em grafologia da época, Jules Crépieux-Jamin. No estudo de cem grafismos, Jamin e colaboradores chegaram a acertos de 75%, 78,8%, uma proporção bem acima do acaso (50%). (BINET, 1903) Os resultados também mostraram que os especialistas (grafólogos) eram falíveis. Os acertos dos não especialistas nas mesmas cem observações, chegaram a 73% para os professores de escolas e 63% para meninas de 18 anos sem educação escolar. (BINET, 1903)  Convém lembrar que na mesma pesquisa, em relação à identificação por idade, os dados mostram que Crépieux-Jamin cometeu erros de até 5 anos em média, enquanto os não especialistas apresentaram altas discrepâncias de 17 e 18 anos mais velhos ou mais jovens do que a idade real do escritor. (BINET, 1903) Temos que considerar que no momento citado a grafologia era uma ciência jovem, sem pesquisas e estudos de grande monta.

Questionado quanto aos critérios utilizados para a determinação do sexo na escrita, Crépieux-Jamin, cujos índice de acerto foi 78,8%, enumerou várias características gráficas encontradas nas escritas dos homens: limpeza, simplicidade, firmeza da letra. (SERGUEÏ et al, 2016) Enquanto nas mulheres foram observadas características como: complicações, exageros, traços insignificantes e incoerências, de além superelevações nas letras "r" e "s". (SERGUEÏ  et al, 2016) Entretanto, os critérios utilizados pelos especialistas para determinar a diferença de gênero não foram satisfatórios. A conclusão de Binet foi bastante suscinta, relatando que o gênero pode ser revelado pela escrita e que os especialistas (grafólogos) obtém resultados acima dos leigos, todavia, estes também alcançam acertos acima de 50%. (SERGUEÏ et al, 2016)

Florence L. Goodenough, em artigo publicado no ano de 1945, demonstra que as pessoas são mais aptas do que realmente se acham capazes em avaliar o gênero na escrita. As conclusões do estudo vão de encontro aos estudos de Binet e Jamin (1903), todavia tem-se que considerar que a questão social de gênero discutida atualmente não foi levada em conta.

Pesquisas mais recentes, como Burr, 2002, analisam a identificação de gênero na escrita de adultos. As avaliações das escritas realizadas pelos participantes tiveram como base características estilísticas para diferenciar os gêneros. Assim, a escrita feminina foi rotulada com adjetivos como "grande", "arredondada" e "cuidadosa” e as masculinas jugadas como "pontiagudas", "inclinadas", "confiantes" e "apressadas”. (BURR, 2002) Quando não era indicado aos participantes o sexo do escritor, estes julgaram que as escritas masculinas e femininas eram significativamente diferentes. Nestes casos as escritas femininas foram rotuladas como "cuidadosas", "limpas" e "regulares/consistentes" e as masculinas como "apressadas", "irregulares" e "desarrumadas/desalinhados". (BURR, 2002) Os termos utilizados são altamente imprecisos e vagos. Os resultados sugerem que os avaliadores podem ter sido influenciados por estereótipos de gênero, levando a erros em alguns de seus julgamentos. Na mesma linha das pesquisas anteriores, o referido estudo assinala que a precisão nas avaliações era significativamente maior do que o acaso (50%) e as doses de acertos eram aprimoradas com a prática. (BURR, 2002)

Os estudos conduzidos por Hartley, 1991 mostram que realmente existem diferenças substanciais entre a escrita de meninos e meninas e que elas são claramente reconhecidas por crianças de sete a oito anos de idade. Porém, tanto professores como os alunos ainda trabalham com estereótipos culturais populares. Neste, como nos demais estudos, fica demonstrado de forma bastante objetiva a facilidade com  que o leigo consegue acertos acima da média nas avaliações, assim como os acertos dos especialistas são sempre maiores.

A abordagem neurobiológica utilizada por Filippos Vlachos & Fotini Bonoti (FILIPPOS et al, 2006) mostra as diferenças da idade e do sexo no desempenho da escrita infantil. A escrita espontânea de duzentas e dez crianças de 7 a 12 anos foram  avaliadas mediante cópia e escrita de ditados. Utilizou-se para tal a escala de escrita da bateria neuropsicológica de Luria - Nebraska. Foi observada que a tendência a melhor proficiência na escrita na infância está relacionada ao sexo; os meninos tiveram desempenho muito pobre em relação as meninas. A psicomotricidade, em termos de escrita, das meninas é muito mais aprimorada que a dos meninos. (FILIPPOS e outros, 2006) Cabe lembrar que para o antropólogo inglês Desmond Morris, 2005, a força das mãos masculinas é, em média, duas vezes maior que a feminina. Ao longo da evolução humana a força foi atingida opondo-se o polegar aos demais dedos e a precisão apenas as pontas de dois dedos. (MORRIS, 2005) Neste caso, por diversos fatores, a precisão da mão feminina é imbatível, inclusive por fatores hormonais que dão mais flexibilidade as juntas das mãos femininas. Desta forma, a escrita das meninas é muito mais precisa que dos meninos. (MORRIS, 2005)

A preocupação em relação ao progresso relativamente baixo no desenvolvimento da escrita dos meninos é um fator preocupante na educação em todo o mundo, em especial no Brasil, principalmente pelos mais diversos tipos de disparidades que são peculiares a um país dimensão continental. Fatores cognitivos e sociais são propostos como possíveis relatos dessas discrepâncias. Estudo realizados (ADAMS e outros, 2019) examinaram as diferenças nas habilidades cognitivas e como a escrita ou as habilidades de processamento fonológico poderiam explicar as diferenças de gênero na escrita inicial. No Reino Unido, o aumento dos padrões na escrita infantil é uma prioridade educacional atual, todavia existe a aparente resistência dos meninos aos esforços para melhorar suas habilidades de escrita, sendo uma preocupação particular das autoridades daquele país. (ADAMS e outros, 2019) Números recentes do Reino Unido relataram que entre 15 a 19% menos meninos do que meninas alcançaram os padrões esperados de escrita ao deixar as escolas primárias do país com 11 anos de idade. (ADAMS et al, 2019) Isso é corroborado por evidências consistentes de uma vantagem feminina em várias avaliações nacionais do desempenho da escrita (Department for Education, 2016; PERSKY, DANE & JIN, 2003).

Alguns estudos, como Armenta, 2016, vão mais além ao examinar as possíveis relações entre a escrita e duas formas sociolinguísticas variáveis: (1) idade e (2) sexo do escritor. A autora cita outros artigos que relatam a precisão na identificação de gênero na escrita. Neste mesmo estudo é analisada a potencial correlação numérica entre a legibilidade em escala de amostras manuscritas e a identificação dos observadores do sexo do escritor e idade com base nos dados da pesquisa. (ARMENTA, 2016) Esse tipo de pesquisa se refere a estudos de percepções e atitudes, marcadores e identificações linguísticas e às variações interlinguísticas. Como em outros artigos, Amenta não deixa de frisar: “Claramente, os indivíduos podem formar julgamentos e preconceitos baseados em fatores como sotaques, antecedentes raciais e orientações socioculturais.” (ARMENTA, 2016)

Atualmente, novas pesquisas têm utilizado a inteligência artificial (SAHA et al, 2018) e o aprendizado profundo de computadores para atingir resultados extremamente positivos. No referido estudo, os autores atingem a precisão de 91,85%. 

Pesquisas com neuroimagens abordam a questão da base neural das diferenças sexuais na escrita, uma forma única de linguagem e comportamento motor (YANG et al, 2020). Homens e mulheres demonstraram que utilizam diferentes regiões cerebrais de maneira específica para escrever, ou seja, a área de Exner, e isso tem uma ligação plausível às diferenças comportamentais de sexo na escrita.  (YANG et al, 2020)

 

Sugestão de uma hipótese

Ao longo dos últimos trinta anos foram observadas, de modo empírico, cerca de vinte mil escritas dos mais diversos tipos. Cabe realçar que o objeto desse estudo são as escritas e não as pessoas. Assim, da mesma forma que existem marcadores linguísticos e marcadores somáticos (ROCHE, 2020), foi levantada a hipótese de existirem marcadores gráficos que indicariam a individualidade na escrita.

A hipótese levanta uma série de novos questionamentos que somente serão resolvidos com pesquisas mais profundas e protocolos mais rígidos para que se confirme a observação inicial.

Para compreender melhor o traço temos que recorrer a fisiologia do movimento escritural. Os principais gestos são: Adução, Abdução, Flexão, Extensão. (BATES et al, 1998). As ações articulares ocorrem em torno de um eixo horizontal ou transversal e incluem os movimentos de flexão e extensão. A abdução é movimento no plano frontal onde o traço se move para longe da linha sagital (média) do corpo. E a adução é movimento no plano frontal onde o traço se move para a esquerda. (BATES et al, 1998).

Na flexão, o movimento do traço se realiza no plano sagital. De cima para baixo. O traço é realizado em direção ao corpo. Existe tensão. O traço é executado em direção do escritor, ventromedial. (BATES et al, 1998).

Na extensão, o movimento do traço também se realiza no plano sagital, todavia de baixo para cima. Afasta-se do corpo. A extensão pode ocorrer quando determinados traços (letra g, por exemplo) voltam para a posição anatômica inicial. (BATES et al, 1998). Disto resultam diversas interpretações, este “jogo” de movimentos flexão/tensão resulta na elasticidade do traço. É óbvio que esta percepção espaço-temporal é realizada de acordo com a motricidade e inteligência do escritor, assim a percepção conceitual do escritor vai ser revelada na escrita. Nos dedos temos o movimento de flexão que é realizado pelos músculos interósseo dorsal, interósseos palmares, lumbricais, flexor curto do dedo mínimo, flexor superficial dos dedos e flexor profundo dos dedos (BATES e al, 1997).

Já a extensão dos dedos é realizada pelos músculos interósseo, lumbricais e extensor dos dedos (BATES et al, 1998). Outro movimento realizado pelos dedos é o de adução, que é executado pelos músculos interósseos palmares. Enquanto a abdução é realizada pelos músculos interósseos dorsais e o abdutor do dedo mínimo (DÂNGELO et al, 1997). O complexo articular do punho e da mão mudaram radicalmente ao longo da evolução humana. O polegar capaz de realizar a oposição é a mais importante delas. Tal estrutura possibilitou a construção de ferramentas, da escrita, das artes. (DÂNGELO et al, 1997).

Os quatro gestos (Adução, Abdução, Flexão, Extensão) são executadas em linhas retas. A combinação entre eles possibilita a infinidade de novos traços. Ou seja, as curvas são provenientes da combinação vetorial destes traços. (BATES et al, 1998).

A maior parte dos traços realizados no ato de escrever é uma combinação complexa destas quatro formas básicas de movimento. As formas básicas, são em teoria, mais fáceis de serem executadas, portanto as alterações nestes traços sinalizam algumas características de motricidade no escritor. Por exemplo: um traço vertical reto com tremores é por demais importante para ser deixado de lado na observação gráfica. Para o perfeito funcionamento do ato de escrever se faz necessários a correta postura ao sentar e a perfeita maneira de segurar a instrumento escrevente.

Este traço de abdução vai influir de maneira bastante positiva no ritmo da escrita, mas, como se sabe, embora se conheça muito sobre o desenvolvimento de aspectos cinemáticos da escrita, pouco se conhece sobre os dois princípios que governam a organização rítmica: Homotetia e Isocronia. Homotetia afirma que a razão entre as durações dos eventos motores únicos que compõem um ato motor permanece invariável e independente da duração total do movimento. Isocronia refere-se à relação proporcional entre a velocidade de execução do movimento e o comprimento de sua trajetória. (PAGLIARINI et al, 2017). A adesão precoce a esses princípios sugere que uma representação interna do ritmo da escrita está disponível antes da idade em que a escrita é realizada automaticamente. No geral, essas descobertas sugerem que, apesar de ser uma aquisição cultural, a escrita parece ser moldada por restrições mais gerais no planejamento de tempo dos movimentos (PAGLIARINI et al, 2017).

 

 

3.   CONSIDERAÇÕES FINAIS    

O princípio aceito nas perícias grafotécnicas em todo o mundo é que não existem duas escritas iguais. Após analisar dezenas de possíveis traços, foi encontrado um específico, que aparece somente em escritas de mulheres e é extremamente raro em escritas masculinas. Foi então utilizado para tal traço o termo marcador gráfico, que não foi encontrado na literatura de termos de perícias. O referido traço aparece na letra p (Anexo I), embora não seja incomum encontrá-lo em letras m e n. Nas observações de 1.200 escritas femininas os escores atingiram 16,42% das amostras. Já nas masculinas, de 1.100 amostras, foram observadas apenas duas ocorrências. É importante ressaltar que os dados foram tabulados de forma empírica e destas observações é que resulta a referida hipótese.

O traço identificado na letra p é um típico traço de Abdução, movimento no plano frontal, da esquerda para a direita. Em termos de escrita, é um gesto prático e direto, os gastos de energia para o próximo traço são, de certa forma, mais econômicos. Isto é fácil de ser observado em um traço de Adução, que parte do lado direito para o esquerdo. Assim como a escrita ocidental tem como linha de ação da direita para esquerda, o gesto de Adução puro e simples seria considerado regressivo e o consumo de energia seria desnecessário. Estudo de movimentos escriturais atualmente são comuns em todo o mundo (PLANTON et al, 2013), todavia a explicação para cada gesto em si é praticamente inexistente.

Uma vez atingidos os dois parâmetros, a escrita tende e ser mais rítmica, mais bem estruturada; pela a simples observação do gesto na letra P concluímos que escrita possui os dois parâmetros.

Poderíamos traçar várias hipóteses a serem testadas para encontrarmos as causas deste traço ocorrer predominantemente em mulheres, mas o objetivo do presente artigo é mostrar o potencial que este tipo de estudo pode trazer. As escritas com este traço marcador possui características específicas: Alto nível de legibilidade; espaçamentos regulares e constante entre palavras; linhas e letras; ligação entre uma letra em outra em forma de guirlandas; ausência de ligações em ângulos entre as letras, as letras em todas as palavras são ligadas (acima de 90%); letras ovais bem executadas; grafismo estabilizado; as linhas não se misturam; o movimento é controlado; a direção das linhas é retilínea em folhas em branco; a pontuação é precisa, os traços são limpos e sem borrões; o texto é organizado, a pressão é constante e firme, praticamente não existem espasmos de pressão. Desta forma o traço de abdução na letra p se constitui um excelente marcador da escrita que desejamos ser atingida depois de iniciado o aprendizado do modelo escolar.  Existem outros pontos importantes que devem ser considerados nas futuras pesquisas e que não foram considerados neste artigo de forma mais explícita. As variáveis culturais e sociais que atuam no desenvolvimento da escrita feminina ou masculina necessitam ser consideradas, especialmente tendo em vista as gritantes diferenças existentes nas mais diversas regiões do país. Com certeza as questões culturais e de natureza educacional modelam de forma intensa os comportamentos e suas formas de expressão na vida social.

Várias questões não foram relegadas para segundo plano por este autor: “Se as meninas têm melhor desempenho no aprendizado da escrita, porque isto não se torna uma vantagem extremamente visível em termos de sucesso nos anos posteriores, já que a escrita é uma competência social valorizada? Poderíamos criar meios de aprimorar isto para alavancar a igualdade de gênero em nosso país?

Aqui deixo a frase lapidar do Dr. Robert Olivaux, Pédagogie de l'écriture et graphothérapie, Ed. Masson,1991. ”O respeito ao outro, implica no respeito a sua escrita.”

 

 

Considerações finais

Desde as primeiras comprovações que a escrita é um gesto cerebral (PREYER, 1895) já existia a preocupação em identificar gêneros de forma científica na escrita. As conclusões de todas as pesquisas são bastante objetivas, embora os métodos e sistemas variem: sim, é possível identificar gênero na escrita. As primeiras implicações práticas estão na verificação de cartas anônimas e perícias grafotécnicas.

Todos os estudos convergem para vários pontos importantes: é possível identificar gêneros nas escritas; os leigos apresentam doses de acertos acima da média; os especialistas atingem escores acima dos leigos; a escrita das meninas é superior em qualidade a dos meninos. Os objetivos maiores se concentram no aprimoramento da qualidade da escrita (ADAMS et al, 2019), tanto nos meninos como nas meninas, todavia com especial atenção aos primeiros.

O potencial existe que, ao reconhecer as diferenças de gênero nas escritas, é possível criar métodos que possam aprimorar, tanto o desempenho escolar como o aprimoramento do ato de escrever em si.

 


4.    RELEVÂNCIA E IMPACTO SOCIAL 

Ao identificarmos as diferenças de gêneros nas escritas, é possível criar métodos e sistemas que ao facilitarem o aprendizado e aprimoramento, tanto dos meninos como das meninas, certamente vão aperfeiçoar a evolução da capacidade escolar do aluno em vários campos. O tempo que se gasta na tentativa de aprimorar o gesto escritural, em especial a legibilidade, é grande e altamente desproporcional aos resultados atingidos, sendo que muitas crianças com mais de cinco anos de alfabetização não conseguem escrever uma frase completa. A identificação por meio de traço marcador na letra é inédita e tem como principal característica a facilidade de ser observada a custo financeiro quase nulo, ao contrário de métodos sofisticados com ressonância magnética ou algoritmos. Uma vez que o traço na letra p seja observado na escrita, a identificação de gênero é imediata. Todavia a ausência dele não permite qualquer outro tipo de conclusão. Desta forma, como sequência desse trabalho, está a busca de novos traços que possam aprimorar a identificação de gênero, sendo que alguns já estão em fase adiantada. Com certeza são necessárias maiores investigações, inclusive protocolos mais rígidos que possam confirmar a hipótese aventada.

Convém realçar novamente que existem inúmeras variáveis culturais, sociais e históricas que atuam na construção da escrita e novas (variáveis), tais como computadores, tablets etc. Cabe ao pesquisador sempre as levar em alta conta de modo a evitar quaisquer tipos de percepções e/ou interpretações duvidosas e deterministas, que ofereçam margem à pré-conceitos.

O potencial para novas investigações é novo e amplo. Assim como os marcadores somáticos e linguísticos existem em grandes quantidades, aqui se aventam hipóteses de novos marcadores gráficos serem pesquisados, tanto nas escritas masculinas quanto nas femininas, não somente em questão de gêneros, mas também em outras áreas, como por exemplo na medicina. Já são conhecidos os estudos de micrografias e tremores na escrita de parkinsonianos e portadores de Alzheimer, mas não em termos de um traço específico (marcador). Somente pesquisas mais profundas e protocolos rígidos irão confirmar o grande potencial, da hipótese aqui traçada.

 

 

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ANEXO I 





TCC aprovado no curso de Neurociências do Comportamento Humano. 
Ano 2020.  PUCRS

Texto adaptado para o formato do Blogg. 


Paulo Sergio de Camargo

Grafologia - Linguagem Corporal


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