Recebe vários questionamentos sobre a entrevista do
Roberto Goldkorn no programa da Ana Maria Braga.
Espero não me alongar.
Antes de tudo, devemos respeito para com todos os profissionais
e as críticas devem se restringir ao trabalho em si. As críticas obrigatoriamente não devem ser focadas
na pessoa e sim no objeto, no caso o "método de grafologia" utilizado pelo Goldkorn.
Levem em conta que o Roberto é uma pessoa educada e séria,
afirmo isto, pois há alguns anos troquei alguns e-mails com ele. Concorde ou não, as resposta foram educadas e
sem qualquer tipo de necessidade de estabelecer conflitos.
Feito os reparos iniciais, vamos ao que interessa. O método mostrado no programa.
Há anos quando questionei sobre o método ele me disse
que aprendeu com um agente secreto do serviço russo (KGB). Que os russos
utilizavam o processo durante a guerra fria.
Quando perguntei quem era o sujeito a resposta foi que
encontrou a cara na rua e o mesmo ensinou o método e desapareceu. Ou seja, a resposta ficou o ar.
Na época eu tinha contato com um major do serviço de
inteligência da Força Aérea Russa, questionado disse-me que não existia nada
disso por lá. Consultei vários
grafólogos no mundo e não encontrei nenhuma informação relevante (pode até
existir).
Quanto as teorias apresentadas no programa, especialmente
sobre as letras. Não conheço e nos livros que tenho as informações não fecham.
De forma sintética.
Desde o nascimento da grafologia os grafólogos de
ponta sempre condenaram a avaliação pura e simples de uma assinatura. Embora
ela possa trazer informações, as mesmas só serão confirmadas em uma análise com
o texto. Autores com Jamin, Pulver,
Klages, Vels, Xandró, Viñals, Tutusaus e outros são categóricos nesta
afirmação.
Meus estudos e os mais modernos da Sociedade Francesa
de Grafologia, apoiam o fato.
Lamberto Torbidoni, discípulo direto do Padre
Girolamo Moretti, criador da escola italiana de grafologia, em palestra na
Sociedade Espanhola de Grafologia, diz que a escola italiana não concede
importância a assinatura, pois tudo que precisa ser avaliado está no texto.
No livro escrito com outro discípulo de Moretti,
Zanin; Torbidoni praticamente ignora a assinatura. (Grafologia Texto Teórico
Práctico. Ed. Tantin)
Temos que levar em conta que a escrita em geral e a
assinatura pode conter símbolos dos mais diversos, contudo o que o entrevistado
fez foi criar links inexistentes, tanto que foi elegantemente contestado pela
mente mais crítica de Chico Pinheiro.
As
condições em que uma assinatura é feita é fator capital para a análise. Há anos
um aluno meu achou que o pai tinha algum distúrbio psicológico, pois a escrita
era todas tremida, não levou em conta que o bilhete fora escrita no ônibus em
movimento.
Escrever em uma parede depois
de um jantar e algumas taças de vinhos é motivo para não se realizar qualquer
tipo de análise.
Outro dado relevante, entrevistei diversos atores e
muitos me disseram que tinham duas assinaturas, uma para contrato e outra para
o público. Sendo que a para o público
normalmente era diferente para que não falsificassem.
Mais um detalhe: na pressa, o autógrafo é quase um
rabisco.
Nada disto foi levado em conta e a “leitura” foi a
mais abrangente possível.
Em um dos e-mails que recebi: “Dizer para qualquer jornalista do porte do Chico Pinheiro que ele é
culto e sofisticado é chover no molhado”.
A análise da letra P de Pinheiro
A grafóloga H. Saint-Morand em seu livro “les bases
de l´analyse de l´écriture”. Paris Vigot
fréres, 1943. Diz que a letra P indica a
ousadia (hardiesse) excessiva ou moderada.
Autores como Paul Carton não especificam a qualidade
que o P mostra. (Dictionnaire de Graphologie. Librairie de François. 1933.
Outra grafóloga francesa, simplesmente deliciosa em
seus escritos, mas sem cientificidade alguma, Roseline Crépy fala que a letra P
como a do Pai (Pére)
Embora Crépy não esqueça que a letra precisa ser
analisada de acordo com os demais gêneros, pressão, velocidade, dimensão etc.;
o entrevistado infelizmente parece que se esquece disto.
Prefiro ficar com Pulver (O Simbolismo da escrita. Ed. Suarez) quando diz que a letra
inicial maiúscula (qualquer que seja ela) separada das demais indica “visão justa das coisas”.
Grafologia em empresas
É impossível para o grafólogo observar organização
espacial, gerenciamento de tempo, visão sistêmica somente na assinatura. Aliás,
grafólogos do mundo inteiro não analisam assinaturas isoladas em termos de
recrutamento e seleção de pessoal. Nos
contatos que mantenho com dezenas de grafólogos americanos, espanhóis,
franceses etc.; isto é ponto passivo.
Doenças
Embora existam algumas correlações entre a escrita e
algumas doenças, grafólogo não faz diagnóstico, especialmente com um único
instrumento, no caso a grafologia. Isto é um tremendo erro, pode induzir a
pessoa a comportamentos espúrios. Quem assistiu a série House sabe que fica impossível
realizar qualquer avaliação médica por meio da escrita.
O diagnóstico é privativo de médicos e especialistas.
A legislação brasileira trata como crime realizar
diagnósticos sem ser médico.
Final
Ao que consta o método apresentado tem muito pouco a ver com grafologia. As observações são pessoais e muitas vezes conduzido de
modo intuitivo e que se ajusta a pessoa que está sendo analisada.
Como grafólogo sou totalmente contra este tipo
de análise, que não deve ser considerado grafologia.
Abro espaço em meu blogg e no grupo Grafonauta
para o que Roberto se explique de modo consistente., evidente que sem os
mistérios e ocultos dos primeiros e-mails que trocamos.
Pessoal
Os comentário devem se restringir a grafologia, sem
qualquer tipo de ofensa a quem quer que seja.
2 comentários:
Aos grafonautas,
Cada vez que escuto o anúncio de uma entrevista sobre Grafologia, me preocupo, pois apesar de contarmos com profissionais que tão bem conduzem o assunto com maestria, sabemos que tantos ainda insistem em atender às espectativas de um público ávido por respostas mais rápidas e fáceis acerca da avaliação da personalidade. Continuemos a nos policiar quanto à prática da análise da escrita de forma dinâmica e estrutural e só assim estaremos mais atentos para solidificar nosso compromisso com os que se mostram interessados e acreditam nos conhecimentos e método desta Ciência.
Paulo, parabéns pela iniciativa e embasmento de suas colocações.
Considero o que ocorreu nessa reportagem, uma grande falta de respeito não apenas a todos nós que buscamos aperfeiçoar a cada dia mais nossos estudos e pesquisas grafológicas, mas também com as pessoas que são submetidas a esse tipo de analise precária, tendo muitas vezes sua vida e toda a família prejudicada. Você, outros profissionais no Brasil e eu, que mantemos contatos constantes com grafólogos de diversas partes do mundo, sabemos que analisar apenas a assinatura é uma prática grafológica condenada em todos os países que utilizam a grafologia.
Sobre a parte em que falou sobre o significado das letras, foi deprimente!
São vidas e famílias que estão em jogo nessas horas. Por isso lamento profundamente e calar é compactuar com uma falsa grafologia! É de extrema importância lembrar sempre que do outro lado da folha de papel escrita existe um ser humano com o qual devemos ter muito cuidado e compreensão, principal motivo que nos leva ao aprofundamento da grafologia e a tratá-la com a máxima seriedade.
Grande Mestre, em meu blog: http://grafologiaromar.blogspot.com.br/, falo de autores fora do Brasil que condenam essa prática além de citar parte do seu artigo.
Parabéns, Paulo, pela iniciativa.
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