segunda-feira, dezembro 14, 2020

Grafologia Estudos. Gesto gráfico Bico de Pelicano.

 

Bico de Pelicano


 
Existem centenas de signos gráficos na escrita, cabe ao grafólogo interpretá-los de acordo com a regras da grafologia. Todo sinal, por mais simples que seja, precisa necessariamente pertencer a uma espécie grafológica. Alocado a determinada espécie, obrigatoriamente está incluído em um gênero. Os sinais, portanto, são modos de determinadas espécies, assim o mesmo sinal, pode pertencer em duas espécies (dificilmente ao mesmo tempo), de acordo com o modo como é executado.

 

Dois princípios básicos da escrita:

-  A escrita é ao mesmo tempo manifestação motriz e intelectual: A mão escreve, o cérebro comanda.

-  O exame da escrita fixa-se em duas funções essenciais:

Ø  MOTRICIDADE   

Ø  INTELIGÊNCIA

 

Em linhas gerais e sem maiores considerações, uma criança de 3 anos tem inteligência, mas não motricidade para escrever. O macaco de dois anos possui excelente motricidade, mas não tem inteligência para escrever.

A comparação, a princípio é esquisita, todavia serve facilmente para definir os dois parâmetros. Desta forma a maturidade gráfica nem sempre é fácil de ser atingida, não por outra que crianças passam oito anos na escola e não conseguem escrever.

Primeiramente temos de definir os quatro principais vetores da escrita. Entramos no terreno da motricidade.


Os principais gestos são:

Ø  Adução

Ø  Abdução

Ø  Flexão

Ø  Extensão

 

As ações articulares ocorrem em torno de um eixo horizontal ou transversal e incluem os movimentos de flexão e extensão.
 

Abdução: Movimento no plano frontal, o traço se move para longe da linha sagital (média) do corpo.

Adução:  Movimento no plano frontal, o traço se move para a esquerda.

 

Na flexão, o movimento do traço se realiza no plano sagital. De cima para baixo. O traço é realizado em direção ao corpo. Existe tensão. O traço busca o centro do “eu”, ventromedial.

Na extensão, o movimento do traço também se realiza no plano sagital, todavia de baixo para cima. Afasta-se do corpo.

A extensão pode ocorrer quando determinados traços (letra g, por exemplo) voltam para a posição anatômica inicial. Disto resultam diversas interpretações, este “jogo” de movimentos flexão/tensão resulta na elasticidade do traço.

É óbvio que esta percepção espaço-temporal é realizada de acordo com a motricidade e inteligência do escritor, assim a percepção conceitual do escritor vai ser revelada na escrita. Cabe ao grafólogo interpretar estes movimentos.

 

Nos dedos temos o movimento de flexão que é realizado pelos músculos interósseo dorsal, interósseos palmares, lumbricais, flexor curto do dedo mínimo, flexor superficial dos dedos e flexor profundo dos dedos (BATES; HANSON, 1998; DÂNGELO; FATTINI, 1997).

Já a extensão dos dedos é realizada pelos músculos interósseo, lumbricais e extensor dos dedos (BATES; HANSON, 1998). Outro movimento realizado pelos dedos é o de adução que é executado pelos músculos interósseos palmares.

Enquanto a abdução é realizada pelos músculos interósseos dorsais e o abdutor do dedo mínimo (DÂNGELO; FATTINI, 1997).

O complexo articular do punho e da mão mudaram radicalmente ao longo da evolução humana.

O Polegar capaz de realizar a oposição é a mais importante delas.

Tal estrutura possibilitou a construção de ferramentas, da escrita, das artes.

Os quatro gestos (Adução, Abdução, Flexão, Extensão) são executadas em linhas retas. A combinação entre eles possibilita a infinidade de novos traços. Ou seja, as curvas são provenientes da combinação destes traços.

A maior parte dos traços realizados no ato de escreve é uma combinação complexa destas quatro formas básicas de movimento. As formas básicas, são em teoria, mais fáceis de serem executadas, portanto as alterações nestes traços quando ocorrem sinalizam algumas características de motricidade no escritor. Por exemplo: um traço vertical reto com tremores é por demais importante para ser deixado de lado na observação gráfica.

Para o perfeito funcionamento do ato de escrever se faz necessários a correta postura ao sentar e a perfeita maneira de segurar a instrumento escrevente.

 

O Bico de pelicano

O bico de pelicano é executado de várias maneiras. Somente com bom nível de experiência o grafólogo consegue determinar o início e o fim do traço. O traço de ataque e o de fuga estão entre as grandes preocupações do perito grafotécnico no estudo das falsificações.

No bico de pelicano partes do traço são curvos e partes retas. Necessariamente existe um ângulo que é a junção a curva com o traço, ou seja, existe a mudança brusca da direção. O traço que caminha em uma direção, volta praticamente na direção oposta.

O traço reto pode inicial ou final, embora a forma final seja a mesma. O traço reto é executado no plano frontal e o movimento pode ser de Abdução (para a direita) ou Adução (para a esquerda).

A parte curva do traço também pode inicial ou final, mas sempre será uma combinação vetorial dos quatro traços.

Os movimentos e suas direções, determinam características grafológicas, assim se o traço inicial for a curva, os movimentos são mais complexos, envolvem altruísmo, sedução, envolvimentos, amenidades. Os traços retos são mais diretos incisivos, decididos. 

A maior parte do movimento humano é uma combinação complexa das formas básicas de movimento. Ao se analisar o movimento a partir da perspectiva mecânica, é prático separar movimentos complexos em seus componentes linear e angular (HALL, 1991).

 

 

Vejamos os Tipos

Tipo I

Traço de abdução inicial. Traço reto. 

 

A seta indica o traço de ataque. O traço de fuga termina na zona superior.

O bico de pelicano, em termos, comportaria o ângulo C de Moretti.

 

Projeção para o futuro, quando mais firme e preciso, maior capacidade de decidir. O tamanho do traço indica a quantidade e energia colocada naquilo que realiza.

Terminado o traço horizontal existe uma brusca guinada de direção. Neste ponto a traço reto sofre um freio brusco e então se inicia a curva. Esta mudança específica muito bem o traço de pelicano, mescla ângulo com curva. Nesta volta o traço parte para a zona superior, das ideias, do consciente. Ou seja, vai refletir sobre as decisões tomadas.

Embora a subida final muitas vezes seja realizada em curva, não se deve excluir a interpretação de um traço final vertical, todavia que seja sempre um gesto de extensão, ou seja, relaxamento.

No caso ocorre uma volta ao passado, a linha é abaixo do traço inicial, portanto, provavelmente ligada a zona inferior, materialismo, inconsciente. O escritor volta para revisar a decisão tomada de forma intensa e direta. No bico de pelicano clássico, como assim entendemos, este traço não corta o traço inicial, mas quando isto ocorre é muito pouco.

 

Para Michon, qualquer que seja o tipo de curva (não define que seja guirlanda ou arcada) sinalizará, pelo menos, que o caráter do escritor não é privado de doçura. (observe que no século XIX, primórdios da grafologia, os termos utilizados não tinham a enorme carga psicológica e até mesmo empresarial que possuem atualmente.)

No livro Système de graphologie, (1875), pág.  297, Les passions), Michon enfatiza “empurrado para o excesso, a intensidade destrói a virtude”. Mais ainda, quando diz: "Quanto menos ângulos existirem na escrita, maior será o lado doce." (pág. 190), até os dias atuais parece indiscutível.

No mesmo livro (Syst, p.192), o abade assinala a equação "curva = suavidade", ou, mais exatamente, "qualquer curva é um gerador de gentileza". Isto continua válido até os dias de hoje.

Mais tarde irá afirmar que "qualquer curva é um gerador artístico”. Alguns sinais estudados por Michon exemplificam de maneira magistral suas teorias, como por exemplo a letra o D lírico, indicativo de criatividade. (Amplio em meus estudos este significado, pois veja no D lírico a forma humana de expressar graficamente a curva de Fibonacci.)

Basta refletir um pouco, para criar o autor necessita de “soltar” as rédeas da imaginação, a tensão do ângulo certamente é contrária a isto.

Observe que no livro Système de graphologie (06 fevereiro 1875), no capítulo:

IV Physiologie graphique. Fonctions et combinaisons des traits (pp. 85-128)

 1° Du trait considéré comme ligne droite

 2° De la courbe et de l'angle

 3° De la direction des lignes

                            

Michon escreve sobre curvas e ângulos trinta anos antes do Girolamo Moretti. Não consta, nos primórdios, que o padre Italiano tenha tido acesso a obra de Michon, todavia a intuição dos dois grandes mestres, os leva a interpretar a dicotomia ângulo/curva como importante no estudo grafológico, mesmo sob pontos de vistas diferentes.

 

Tipo II

Traço curvo inicial. Adução no traço final.




A seta indica o traço de ataque. O traço de fuga é regressivo e termina na zona média.

O bico de pelicano, em termos, comportaria o ângulo A de Moretti.

  

O traço se inicia na zona superior faz a curva que termina no lado direito e se transforma num traço de adução, voltado para a esquerda.

Evidente que o grafólogo não descarta a análise da pressão, velocidade, tamanho, forma etc. O movimento iniciado em curva é bastante significativo. Para tal recorremos a Moretti.

Curva é signo substancial da vontade. Tendência ao altruísmo, a bondade, profundidade de sentimentos, preocupação com o bem-estar dos demais, disponibilidade para a compreensão, para a compaixão, aceitando com benevolência as observações feitas, mesmo que não sejam justificadas. Aptidão intelectual para compreender e se aprofundar nos conceitos. Toma, com abertura mental e docilidade, as teses e propostas avançadas dos demais, sendo isto, uma expressão de altruísmo e benevolência.

 

Ocorre a preocupação de ser consequente naquilo que realiza. O gesto voltado para a esquerda é considerado uma volta ao passado, e quando ocorre na zona média, também pode ser considerado, em alguns casos, sentimentos autopunitivos, o escritor se policia naquilo que realiza, portanto é consequente nas atitudes e tomada de decisão.

 

 

Tipo III


Traço curvo inicial. Abdução no traço final



O traço final é voltado para direita, futuro. Neste caso o cruzamento entre da linha indica a repressão dos impulsos. Quanto mais ele se lança à direita depois de cruzar o tempo, maior a impulsividade. O traço lançado mostra pouca contenção dos impulsos e a proporção da parte esquerda e direita do traço deve ser considerada. O ângulo a esquerda, a medida entre contração e disparo. Para que se produza um traço como este, o autor necessita obrigatoriamente ter fortes energias. As pulsões instintivas nem sempre se equilibram de forma razoável. 




O escritor inicia o movimento em curva na zona superior, mas volta para o passado, ou seja, necessita revisar as vivências para depois ir em busca do “futuro”. Este tipo parece ser o mais decidido dos quatro, já que o traço final é reto (abdução, da esquerda para a direta) voltado para o futuro.

Quando este traço corta o traço curvo, o escrito não fica confinado as reflexões iniciais (traço curvo), ele se projeta para o futuro sem medos. A maneira como termina o traço (acerado ou massivo) completa a interpretação dele.

Traço final maior que o traço curvo e lançado: existe a desproporção entre aquilo que o escritor reflete e decisão tomada. Em outras palavras pode refletir, mas a decisões algumas vezes é maior ou mais destemperada. Em todo caso, existe a capacidade de decidir e nunca se exclui as consequências dos atos que irá praticar.


 

Tipo IV

Traço Adução inicial. Traço curvo final.


  

 


Neste caso, a “decisão” de voltar ao passado é direta e rápida. Não existem dúvidas do que faz, como vimos anteriormente a interpretação depende do tamanho do traço, da forma do bico, curva ou ângulo etc. Quanto menor o ângulo de mudança, maior a repressão do impulso, maior a agressividade ou brusquidão na tomada de decisões, nas mudanças de opinião. Aqui, como nos demais exemplos, existe similaridade com os ângulos A e C (curva) de Moretti.

Logo após o movimento se torna mais complexo (curva) ou seja. A “decisão” inicial é completada pela interpretação resultante da curva. Pensa e reflete de forma rápida, todavia é bem mais amena e consequente no plano da realização.

 

 

Observações importantes

A direção do traço divide-se em: progressiva, regressiva, mista, ao revés e com torções.

A direção do traço está intimamente ligada às nossas motivações e mecanismos de compensação. Os traços são executados no sentido horário ou anti-horário.

A escrita ocidental parte da esquerda para a direita – escrevemos de “dentro” para “fora” de nosso corpo –, logo a escrita sinistrógira é um gesto voltado para dentro que expressa “instinto de apropriação”, com a energia dirigida para o interior. Temos de levar em conta também a zona em que o gesto predomina.

Na escrita dextrógira, o gesto é dirigido para a direita, para fora. O caráter dextrógiro encontra-se ao lado da “liberação d’alma” e o sinistrógiro, ao lado da “constrição” (Klages).

O gesto à esquerda não é, na maioria das vezes, um gesto forte, porque exprime exclusão da força como objetivo primordial. 

Como o indivíduo não faz uso de sua força, é natural que ele procure outros meios para conseguir seus intentos, como sedução, convencimento etc. Indica ainda calma e receptividade.

 

Foi descrita pela primeira vez pelo Dr. J. Héricourt, no Bulletin de la Société e Psychologie physiologique, em 1897, no qual chama a atenção sobre o caráter diferencial das escritas que têm os traços dirigidos para a esquerda e para a direita. Pierre Humbert prefere usar os termos progressiva e regressiva em detrimento da denominação de Héricourt.

Para Jamin, a progressiva é a síntese das escritas: curva, centrífuga, combinada, ligada, acelerada, simples, simplificada e sóbria, em suas manifestações mais afortunadas.

 

Exemplos


1.      O golpe de sabre (acima) e logo abaixo o bico de pelicano tipo III.  

Presidente Jair Bolsonaro.

 



Presidente João Goulart

 

 

 

Considerações finais

Trata-se de um traço complexo que une movimentos curvos com retos. Por definição quem escreve assim deve possuir habilidade gráfica (de acordo com Klages), mas também um certo dom gráfico (Klages).

Desta forma, pelas minhas estatísticas, este traço dificilmente ocorre em escritas caligráficas e pessoas com pouca escolaridade.

A legibilidade das assinaturas está sempre comprometida.

O gênero quando levado em consideração: mais comum em homens do que mulheres. 

Idade: escassa em menores que 20 anos, mais presentes em acima de 30 anos.

Nas pesquisas observei que grande parte das pessoas com este traço estão, de alguma forma ou de outra, em posições de liderança, nos mais diversos graus. Isto não é surpreendente, pois o traço de pelicano tem fortes similaridades com o golpe de látego e o golpe de sabre, guardada as devidas proporções.

O traço quando passa encima do anterior também sinaliza que o escritor deseja ter a última palavra e/ou se desdiz daquilo que afirmou anteriormente.

O bico de pelicano seria também um sinal de liderança, isto é confirmado pelas estatísticas, a maioria dos exemplos estudados estão presentes em escritas de pessoas que estão em posição de liderança.

Existe espaço e exemplos para considerar e aprimorar estas interpretações, todavia que ao longo dos 10 anos de estudos, creio que algumas (das interpretações) são consistentes e sólidas. 




Paulo Sergio de Camargo

Neurociências  -  Linguagem Corporal - Grafologia 

Canal YouTube   Inscreva-se gratuitamente


instagram.com/paulocamargolc/

https://www.facebook.com/paulocamargolc/

http://grafonautas.blogspot.com/

http://twitter.com/Grafonauta


 

Nenhum comentário: