terça-feira, novembro 04, 2014

Teoria dos Traços Catalisadores III

Será possível prever movimentos na escrita?
Observando apenas um traço?

Durante anos especialistas tentaram explicar como é possível um tenista rebater um saque de 200 km/h. 
Estudos mostram que não é a reação, mas a capacidade de ler a linguagem corporal do oponente. (Revista Veja. Ed. 2389  - 03 de Setembro de 2014)

Pulver dizia que o grafólogo é um tradutor de movimentos. Se isto é verdade e tenho certeza que é; certamente o grafólogo por meio de técnicas pode observar determinados traços e concluir o(s) próximo(s) movimento(s). Mais do que isto, tirar inúmeras conclusões antes mesmo de começar a análise propriamente dita.
Isto facilitará o trabalho e as conclusões do perfil serão mais profundas. Nos próximos artigos vamos desenvolver a teoria do “bootstrap” na grafologia.

No caso dos atletas de ponta a capacidade para prever o movimento chega ao ápice em torno de dez mil horas de treino, mas é válido somente para o esporte que pratica. Fora disto, o reflexo do atleta é o de qualquer pessoa normal.

O artigo ainda cita que os atletas superam o limite físico porque a prática intensiva do esporte transfere a decisão de reagir o lobo frontal do cérebro, onde são processadas as ações conscientes, para áreas que controlam as ações automáticas do corpo, como respirar.

Tenho absoluta certeza que o grafólogo treinado pode fazer o mesmo. Pelo tempo de treino e também pela pesquisa de sinais na escrita que demonstrem de forma cabal que a simples e direta observação de um traço leva o aparecimento de outro, assim como estudo do movimento em si.

Existem traços específicos de determinados movimentos, mais do que isto, a forma com que é executada uma letra é específica de um movimento.
Depois de estudado alguns exemplos, certamente o grafólogo vai “prever” com precisão quando este se repetir na escrita ou o próximo traço que vai aparecer. 
Depois, por meio de treinamentos e tempo, com certeza irá concluir o movimento e suas inferências psicológicas.

Creio que este tipo de procedimento leva a análise grafológica a um novo patamar de compreensão.
Evidente que somente o treinamento intensivo e o estudo constante de centenas e milhares de escritas são os requisitos primordiais para chegar a conclusões mais profundas e precisas.


Todos os dias interpretamos dezenas de movimentos. Será verdade?
Por incrível que pareça isto é a mais pura verdade e normalmente não nos damos conta. Um exemplo clássico de interpretar movimentos de maneira intensa ocorre quando caminhamos na rua.
Segundo Desmond Morris:
“Toda vez que caminhamos por uma rua apinhada de gente, reagimos aos movimentos de intenção dos demais caminhantes à nossa volta.”
Deste modo evitamos as mais diversas colisões. Experiente ao ver duas pessoas que conversam  e estão vindo em sua direção na calçada. Apenas olhe e caminhe para o meio das duas. Você vai observar que automaticamente elas abrem passagem no meio.
Alguns movimentos de intenção são extremamente sutis, todavia temos a capacidade de interpretá-los até mesmo sem o devido aprendizado.
Morris ainda cita que existe uma área de ação humana que leva a forma de  movimento rítmico ao extremo: a dança. A dança é uma locomoção que não nos leva a parte alguma. O ritmo dos movimentos alternados tornou-se um fim em si mesmo.

Não é objetivo deste artigo, mas creio que todos os grafólogos deveriam estudar os mais diversos tipos de dança. O movimento e o espaço utilizados, bem como a simbologia são por extremamente interessantes e levará o grafólogo a comparações e inferências importantes para o conhecimento da grafologia em si.


Escrita empilhada
Chamo de escrita empilhada àquela em que as palavras ficam uma em cima das outras por mais de quatro linhas.
Após pesquisar algumas centenas deste tipo de escrita, observei que dividindo o texto verticalmente em três partes, o empilhamento ocorre essencialmente nas duas primeiras partes (lado esquerdo e meio). Não encontrei escritas em que o empilhamento ocorra na margem direita. Não quer dizer que não exista, apenas não encontrei.

A interpretação é até certo ponto fácil, já que após o empilhamento normalmente temo uma chaminé. Fica evidente o estado de ansiedade.
Contudo a interpretação certamente vai além disto.

Pulver escreve:
... se a distância expressa a tendência voluntária ou involuntária de separar, que se apoia na posição que geralmente valoriza e na atitude de juízo, a distância entre as linhas  indica em especial a exigência de ordem por parte do espírito.

Mais adiante escreve:
A pausa como repouso criador, pode se transformar em uma distância que parece um buraco. Não é o efeito do intelecto que limita, senão a inibição psíquica que empurra ao isolamento.

Isto se encaixa de maneira perfeita ao espaço deixado à frente das palavras após o empilhamento. Se após o primeiro empilhado de palavra seguir outro, a situação se complica mais para o escritor em termos de interpretação.

Os empilhamentos mais visíveis são os das primeiras linhas no texto e na margem esquerda.  
Isto é importante para a predição do movimento, até mesmo do resultado do movimento grafoescritural em si.
Em 95% das cento e treze escritas pesquisadas, a margem direita é irregular.

Levando em consideração outros fatores: nenhuma das escritas apresentou movimento dinâmico, controlado. Os movimentos eram inibidos, contidos, com variações.
A direção das linhas tende a ser mista na maioria das escritas, com certo padrão para descendente.


Interpretação
A interpretação é até certo ponto facilitada por todos estes fatores acima citados.
Quando ocorre na margem esquerda e em especial nas primeiras linhas:
Lembre-se que nas primeiras linhas o movimento grafoescritural tende a ser consciente. Depois os movimentos inconscientes aparecem. “O consciente escreve o inconsciente dita.” Pulver.

O escritor vive um momento de intensos conflitos, tem noção dos mesmos e da sua intensidade. Sabe que sua vida emocional está tensa e até mesmo desorganizada. Como tem consciência disto, precisa encontrar um meio de se controlar, de dominar as emoções. A tentativa é feita organizando as primeiras palavras (simbolicamente pondo ondem na prateleira).
Todavia isto é artificial. Não tem capacidade e nem habilidade emocional para tal. Logo após a escrita volta a se “desorganizar” e final a margem direita é irregular. Incerteza, preocupação, medo do futuro.
Embora tenha consciência do conflito que vive, tenta, mas não tem capacidade psicológica para resolvê-los de maneira correta.

Escrita empilhada dentro do texto
Inicialmente o escritor não tem consciência do conflito pelo qual passa. De modo inconsciente tenta encontrar uma maneira de se ajustar ao meio em que vive. Como no primeiro caso, gasta energia de modo intenso, mas não consegue o equilíbrio que tenta deseja.
As tensões e ansiedades se ampliam de maneira intensa. O ritmo não flui e a cada tentativa falha, o conflito se amplia. Quer resolver a situação por qual passa, mas não consegue. As ansiedades e tensões se ampliam.





Escrita do livro Personalidade de Risco. Observe o impressionante empilhamento que ocorre ao longo de toda a margem esquerda do texto. A margem direita é irregular, com colas de zorro. A direção das linhas é variável. Imbricada descendente.
Trata-se de uma assassina na prisão. Colas de zorro. Engrossada II modo, chaminés. Retoques.




Caso você tenha alguma escrita empilhada, envie como colaboração e autorize ela ser publicada, com seu nome e e-mail. Os autores das escritas não serão identificados.



Paulo Sergio de Camargo
Grafologia - Linguagem Corporal
http://twitter.com/Grafonauta